24.10.03

Correspondência Secreta

"E é isso, Lindíssima! Eu vou indo. Indo? Essa expressão é muito engraçada. Ela me lembra o temor, o pânico que tinham aqueles bravos e temerários rapazes que, no século XV, exploravam esse vasto e insano planeta. Eles morriam de medo de navegar até o fim do mundo e cair no precipício cósmico. É uma idéia que me seduz muito. Anyway... enquanto não me aparece nenhum precipício, cósmico ou não, eu vou seguindo. Eu já nem lembro pra onde mesmo que vou, mas vou até o fim (Chico Buarque é eterno).
Se eu ainda penso? Ora Regina Paula, é claro que sim!!, lógico! E ainda jogo o jogo dos mal sucedidos, o jogo do "se ao menos". Ficou aquele gosto amargo, o sabor da promessa desfeita, de um romance que nunca aconteceu, nunca vai acontecer. Porque, lindíssima, é claro que ele só continua lindo, perfeito, instigante, estimulante, inebriante e outros antes da vida, porque nunca tivemos nada. Caso contrário ele, no máximo, seria lembrado como "aquele idiota que apertava a pasta de dentes no meio do tubo". A vida é assim. Foi-se o tempo em que eu cantava "você precisa saber o que eu sei e o que eu não sei mais" em rodinhas de violão. Naquele tempo, eu acordava com Pérola Negra, " tente me amar, pois estou te amando", e ia dormir com "ah, que esse cara tem me consumido". Menina boba.Não existe mais nenhum cara com olhos de bandido. Só bandidos com olhos de bom moço….e eles acabavam sempre me enganando e me magoando…então eu desisti deles. De todos eles, sem excessão. Fico aqui, quietinha, esperando…esperando. Vou à locadora sozinha, escolher sozinha filmes que assisto sozinha. Ninguém me cutuca durante a noite para irmos tomar sopa de cebola na Casa do Padeiro, lá na Consolação. Ninguém me liga no meio do dia perguntando se precisa trazer leite quando vier para casa à noite. Ninguém traz a toalha que eu esqueci. Ninguém. Nem existe mais aquela emoção familiar, uma promessa escondida, um telefone que pode tocar a qualquer momento. E dói, viu? Toda opção carrega sua dor, como você bem sabe. A minha não seria diferente da sua. Li uma vez a respeito da dor que de tão familiar já não incomoda mais. É isso. Eu fico aqui, esperando algo tranquilo, com sabor de fruta mordida. E lembrando velhas canções, porque enquanto uso emoções alheias, não tenho que usar as minhas.
Escreva logo! Não tenho nada na cabeça, além de você e desse magnífico cabelo.

Bibi"

¡Drops da Fal!

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