17.10.03

Manhã com cara das primaveras que conhecera em tempos antes. Quais? Não importa muito e, de qualquer forma, a memória anda embaralhada. Cozinha banhada na luz espaçosa dessa mesma manhã... basculantes vazando luz e a vista da rua. Mulheres de outros tempos passam em frente à casa... carregam flores e andam lentas... rumam para o cemitério com um arranjo de cores desordenadas. Na cozinha, o melão e o silêncio permeado de pássaros dão alento nesses tempos de desejo murcho.

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A tempestade contemplada pelo retrovisor é bela. Raios riscando o céu que se acinzentava ao fundo da estrada mal conservada. O cinza dos dias londrinos soma-se a meu temperamento melancólico, mas esse cinza de tempestade me fascina. Aquele cinza grávido de aguaceiro, pulsando de eletricidade espirrada em luzes incomparáveis, que rasgam o céu em tiras, ameaçando deixar cair o que há por cima do gris. E cai água densa... E Porto Alegre vira tumulto... e me parece que de tumulto eu gosto... Uma transeunte me lembra Dulce Veiga, do romance de Caio... pessoas irritadas no trânsito alagado. Noite em Porto Alegre. Entrega ao silêncio e ao sono. Protegida pela tempestade.

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