26.10.03

: Tou bêbida e que se foda!!! ::

Comprei, comprei, comprei sim, meu caralho!!! Tou feliz demais! Tou bêbada e feliz demais, bêbida que nem um gambá, e deus-o-livre, caralho, quanta felicidade! Comprei sim! Capitu Sou EU, o novo do Trevisan, grande bosta! Grande bosta que sou, grande bosta que ele é!!!!

Fiquei brincando de tirar dinheiro do caixa-automático, até resolver o que eu iria fazer. Queria ter um caixa automático em casa, pra ficar brincando de tirar dinheiro, que nem tem maluco aí que queria ter máquina da Coca Cola, só pra ficar espancando o dia inteiro. Ou uma daquelas máquinas dos cassinos de Las Vegas, que fulano roda e tem que fazer um trio de figuras igualzinho, como é o nome daquela porra de máquina, aquela dos desenhos do Pica Pau? Podia até sair dinheiro falso, de mentirinha, eu não ligava. Aquele é meu momento. Meu momento tirar dinheiro do caixa automático. E podem me enterrar junto com os indigentes quando eu morrer, que eu não ligo, eu pelo menos tive o prazer de tirar dinheiro no caixa automático. Ai, que grande bosta de pira! Que pira mais louca!

Aí, eu nem quis saber de porra nenhuma, esse dinheiro é meu, meu último dinheiro feliz, deixa eu ir ali na esquina comprar alguma coisa que me faça gozar, e não tem nada a ver com o pau do meu ex! Me dá o último do Trevisan moça, e embrulha pra presente que hoje a noite é minha, e que se foda o mundo. Trevisan vai entrar pelos meus poros, pela veia, até a última ponta. E se vender Skol nessa porra, me manda duas já, porque o dinheiro dá para os dois vícios sagrados, a cachaça e o Trevisan.

E que se foda! Tou bêbada mesmo, e tou vestida de vermelho, e que se foda! Que se foda o All Star, eu quero é as minhas fantásticas e gigantescas botas, e o meu delineador perfeitamente borrado, e a minha bocona pintada com um batonzão nervoso. Que se foda essa cara pálida, que há quanto tempo mesmo não vê uma pintura?!

Que se foda o ex, que se foda o pequeno, que se foda as rápidas conquistas em busca de cerveja no Largo da Ordem, que se foda se a vida é barra pesada, que se foda o subsolo do underground, que se foda, que se foda, que se foda as luzes amarelas assimétricas de Curitiba. Que se foda o Fire Fox e sua janela perfeita, de onde as luzes assimétricas não me sossegam o facho, e me cegam de Skol e copos por todos os lados. É sexta feira, antes da meia noite, e eu tou em casa, viva, feliz, e meio embriagada, mas estou em casa, em segurança, e que se foda!

Que se foda Dalton tá aqui comigo, e que se foda.

---

Outubro/2003

Eu fui, depois de ter feito amaior merda da minha vida. Melhor não revelar o nome dela. Especialista em dependentes químicos. Tava na lista. Páginas amarelas. Um consultório todo estiloso, branco, com almofadas de cores quentes. Qual é o seu problema Daniele? Eu bebo. Eu tinha dezoito anos. Depois, na semana passada... Era algo totalmente fora de ordem. Flashes de cinco anos atrás, depois flashes daquela semana horrenda. Pai, mãe. Botecos. Namorado. Ex-namorado. Vida. O que quero ser. Mais perdida que cego em tiroteio. Vim andando, não conseguia achar o prédio. Não vou chorar. Eu quase chorei. Engoli tudo. Ela disse que ali era o lugar de chorar. Vou ter que conversar com seus pais, você mora com eles, e enquanto você morar e for sustentada por eles, eles tem que te ajudar. Não só financeiramente. Eu acho que minha família inteira precisa de psicólogo. Eu falo com eles. Saí de lá tonta. Uma mistura de alívio e dor. De peso, e alívio. Tudo misturado. O choro entalado na garganta. Dor no rosto. Palpitação, e ainda tenho que ir trabalhar e dar de cara com aquela catarina vagabunda! Passei duas noites em claro, chorando. Depois comecei a me controlar. Dava uma choradinha, virava para o canto, e tentava dormir. Eu que achava que psicólogo era médico de louco, quase me ajoelhei diante dela, implorando pra que ela não me deixasse mais sair. Mesmo sabendo que ela é médica de gente desequilibrada, eu fiquei feliz, porque nos últimos cinco meses, ela foi a única que me pegou pelos ombros, jogou minha estima pra cima, e disse: Você pode recuperar tudo isso.


Mas...
Não deu certo. Ela não atende por convênio. Meu pai imediatamente achou muito caras as consultas. Chamou a médica de mercenária, só porque ela concordou em voltar a fechar com o convênio do meu pai, porque disse que "gostou de mim", [afinal, quem não gostaria de tratar a mente de Dani Blue?]. Ela também sugeriu que meus pais fossem falar mais de perto com ela [fazer terapia], meu pai, óbvio, se ofendeu. Afinal as loucas da família sou eu e minha mãe, ele não tem nada. Mandou eu procurar outra médica, do convênio dele. Não quis nem saber quando eu disse que ela tinha concordado em voltar a fechar contrato com o convênio dele. Eu disse que não iria em outra psicóloga, passar por todo aquele sofrimento da "primeira vez" novamente. "Esquece", ele disse. Tou pintando meu pai como um carrasco, mas ele não é. Imagina só, a psicóloga deve ter mexido com os brios dele dizendo que a família inteira precisa se tratar.

Agora o assunto virou tabu, ninguém mais fala, ninguém mais comenta. Eu voltei a semana toda pra casa bêbada. Direto para o meu quarto. O segredo sujo da família.


:: Blue Idol :::: you see I, I don't want, to be hurt by love again ::

Nenhum comentário: