20.12.03

É que vem chegando o Natal e todo mundo fica bonzinho, pra ganhar presente do papai noel. Então tem não-sei-quantas mil campanhas pra fazer o Natal de várias criancinhas melhor, e aí você vai e dá um presente que comprou no 1,99 mais perto da tua casa não porque você quer dar um presente pruma criança, mas só porque todo mundo vai levar e fica chato você não participar, e vai ficar todo mundo pensando o quê de você se não houver uma sacolinha na tua mão na hora da missa? Pois é, aí tem a caixinha do porteiro também, e pôxa, você já gastou 1,99 no presente da missa, agora ainda tem que colaborar com porteiro, não basta o condomínio que você já paga? Não, não basta, e o prédio todo colaborou na reunião de condomínio, e você só tem uma nota de 10,00 no bolso (mais o um centavo do troco do 1,99), e se não fôr agora não vai ser nunca, e tá todo mundo olhando você com a caixinha na mão, vamos lá, tá na tua hora, vai logo, solta a grana, põe logo aí o dinheiro e passa essa caixa que tá todo mundo te esperando pra acabar a reunião, e você não queria dar essa fortuna que são 10,00. Na miséria você volta pra casa, e a mulher tá com a cartinha da tua filha nas mãos, "papai noel eu queria uma boneca", mas não é qualquer boneca, é aquela que anda, come, chora, fica doente e faz pipi, não, não parece boneca, tá mais prum irmãozinho, tá, você vai procurar a boneca, se enfiar naquelas lojas entupidas de gente se empurrando, disputando um presente, aquela musiquinha (já é natal na leader magazine..) vai ficar no teu ouvido até a ceia de natal, quando o roberto carlos vai cantar são tantas emoções pela enésima vez, o Papa vai rezar a missa do galo e você fica esperando ele falar alguma coisa em português pra se sentir tocado, nossa, um Papa que fala a minha língua, mas você nem entendeu nada porque já não dá pra entender uma palavra que João Paulo diz. Aí todos se reúnem em volta da mesa, os embrulhos rasgados no chão da sala, grãos de arroz caídos pela mesa, a tia gorda que já desarrumou o prato com as rabanadas de tanto que beliscou, vinho no calor de dezembro, coca cola pras crianças, castanhas, nozes, frutas cristalizadas, tá faltando nevar mas neve aqui derrete logo, o calor tá infernal, a ceia tinha que ter abacaxi, manga e melancia. O papai noel chega, tua filha chora de medo, caramba, você lá naquela roupa vermelha fazendo de tudo pra agradar, suando em bicas, a barba te coçando a cara, e tua filha chorando de medo do papai noel e nem sentido a falta do pai de verdade, que nessas horas criança procura logo a mãe. É isso aí, Feliz Natal.

É Natal no Sanatorium

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