9.1.04

Voltei de lá

Lá parece que não existe pressa, o tempo corre lento. Acordo com o canto dos galos nos quintais e a sinfonia dos pardais. Cavalos se misturam aos carros, a roça e a cidade confundidas. "Dia" quando é de dia, "tarde" quando é de tarde, e assim os cumprimentos se reduzem a toda e qualquer pessoa que passa na rua. A gente de lá parece mais educada. As cadeiras vão para as calçadas no cair da tarde, os mais velhos acendem um cigarro de palha, a brisa sopra morna e as cigarras iniciam um show bem alto. Se chover, pouco antes a garotada brinca de soltar tanajuras como se fossem pipas, e durante a chuva corre acompanhando o barquinho de papel solto na enxurrada. Apesar da mesmice, à noite a praça principal fica cheia, as pessoas conversando umas com as outras, namorando. O céu de lá tem mais estrelas, mesmo quando não está tão estrelado. Acabei de voltar de lá. Vi lagartixas, vagalumes, tanajuras. Ouvi cigarras, galos, sapos, o padeiro deixando o pão na varanda. Andei por ruas de pedra, deitei no banco da praça pra lembrar como são claras as estrelas, namorei à luz delas. Deixei de olhar pros lados ao atravessar as ruas, peguei carona na charrete do cumpadre que não é padrinho de ninguém lá em casa, comi goiaba no pé. Dormi e acordei com portões destrancados e janelas abertas. Toquei violão e fiz serenata. Lá é assim, sempre foi.

Sanatorium

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