É curioso notar como as formas de atender ao telefone variam, mesmo que praticamente inexistam variações nas palavras utilizadas. Interessante também é perceber que cada pessoa cria sua identidade-atendicional-telefônica e invariavelmente usa a mesma palavra, sempre com a mesma entonação.
O "alô" tradicional muitas vezes ganha contornos musicais, ou então se alonga além do tempo previsto para uma palavra tão curta. E eis que encontramos também uma prosaica utilização das acentuações tônica, aguda, circunflexa e tílica: "álô", "aló", "àlô", "âlo","ãnlô?", "aaaalô", "alôôô", "alou", e até mesmo "hálo" pipocam lá e cá, soando ou ressoando através de vozes esganiçadas, grossas, sutis, sorumbáticas, rasgantes, sensuais, frágeis, taciturnas ou fanhas.
Tem também o "pronto" e pronto. Curto e grosso. E também "ois" e "hmns" e outros grunhidos esquisitos.
Ao celular então sobram metidos que, com seus identificadores de chamada, não hesitam em alardear um "fala, Genivaldo", mesmo quando o Genivaldo em questão não está do outro lado da linha porque emprestou o aparelho pro amigo gozador responder "não tá vendo que não é o Genivaldo, seu mané?".
De qualquer maneira, mesmo tornando-se automáticas, nossas respostas telefônicas ainda guardam uma certa autenticidade que, nas empresas, já se perdeu por completo, restando apenas uma gravação tosca que muitos ainda acreditam se tratar de uma recepcionista de carne e osso: "Oliveira, Oliveira e Oliva Advogados Associados Bom Dia Um Minuto Por Favor", "Oliveira, Oliveira e Oliva Advogados Associados Bom Dia Um Minuto Por Favor", "Oliveira, Oliveira e Oliva Advogados Associados Bom Dia Um Minuto Por Favor".
Mas o mais incrível de tudo isso é perceber o quanto eu consegui me alongar diante de um assunto tão bobo. Logo eu, que não consigo falar mais do que um minuto e meio ao telefone.
alô? é da megazona
5.2.04
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