24.2.04

Pesadelos

Ando tendo pesadelos. Coisa grave mesmo. Acordo de madrugada e dou um gritão. Alto mesmo. Coisa de louco. Acordo a rua inteira e a namorada. A namorada, aliás, grita também, de susto.

Estresse. As últimas semanas não têm sido fáceis. Acordo, mal tomo café e venho direto para o computador trabalhar. Não é nada fácil editar um livro, ao contrário do que se pensa por aí. Não só é preciso ter cuidado extremo com o texto como também é necessário conciliar conflitos de interesses os mais diversos.

O pesadelo não é novidade e sempre surge em momentos assim de tensão máxima. Quando eu morava ainda em casa de papai e mamãe, no finalzinho da faculdade, também gritava e acordava a casa toda. Não entendo muito de psiquiatria e tal, mas chego à conclusão óbvia e vulgar de que o grito é um modo que meu organismo encontrou de se livrar das tensões acumuladas.

Sobre os pesadelos, já ouvi de tudo. Minha irmã, carola que só ela, disse certa vez que eu estava possuído pelo demônio. Oquei. Muitos leitores haverão de concordar com ela. E autores criticados negativamente também.

Pelo menos antigamente eu assustava somente as pessoas da minha família. E depois, quando passei a morar sozinho, assustava com meu berro apenas a mim mesmo. Acendia a luz e ficava ali, olhando a parede, temeroso de que aquilo que não fosse um pesadelo. Duro é que agora eu assusto também a namorada. Que fica lá, tremendo toda, enquanto eu volto a dormir pesadamente.

O pesadelo desde sempre assumiu um padrão. O sonho é o de sempre. Tem a ver com uma prisão ou, mais raramente, é um meta-sonho no qual eu me percebendo prevendo o grito. Este é o do tipo mais engraçado. Porque eu sei, em sonho, o que vai acontecer. Mas quando acontece eu me surpreendo.

Uma vez eu quase fui a uma daquelas clínicas especializadas em distúrbios do sono, para ver qual que é da coisa. Isso porque o pesadelo tem um sintoma físico: os braços dormentes. O médico queria cobrar algo em torno de R$ 2 mil pelos exames. Declinei. Até porque, levando em conta que eu durmo abraçado ao travesseiro, não precisa ser especialista para deduzir o porquê de os braços ficarem dormentes.

Tem vezes que acordo com o berro e fico lá, sentadão na cama, esperando o medo passar. Medo? Minto: é pavor mesmo. Do quê? Não sei, não tenho a menor idéia. Medo de bicho-papão, acho. Medo.

O Polzonoff

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