5.3.04

Como se alguém amasse no escuro

Há uma coisa muito importante na vida. A imaginação. A imagem que se tem das coisas que fazem parte de nós. Há uma coisa ainda mais estranha: as pessoas. As pessoas que não conhecemos por imagem. Pessoas longínquas que nos chegam por sentimentos. Emoções. Pessoas que põem as palavras à frente de tudo. Dizem palavras para descobrirem o caminho que podem percorrer. Palavras como cães para prever o perigo da revelação. Porque há o medo de alguém se perder do outro numa questão de falsidade. Mentir por palavras é tão natural como errar uma palavra. Mentir é um esforço de aperfeiçoar a própria vida. A mentira é um erro construtivo. A imagem que se tem de alguém é uma complicação emocional. Falo de imagem verbal definida por palavras experimentais dentro dum corpo invisível. Um corpo de palavras num excesso de ausência. As palavras são estruturas de relações emocionais. Alguém longe de nós não é som nem imagem, mas apenas uma ideia de ser protegida pelas suas palavras. Posso adiantar esta imagem: como se alguém amasse no escuro e fosse tão sincero no amor que não sente.

Escrita Ibérica

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