Então é dia 9 de fevereiro de 2004 e Monsieur Honoré de Balzac apareceu em meu sonho lembrando que, em breve, farei parte do seleto grupo das trintonas que não dispensam cremes anti-rugas, loções milagrosas para manter a firmeza do corpinho e uma taça de bom vinho.
Antes de firmar o tal compromisso irrevogável com o Balzac, tenho ainda um ano para olhar-me no espelho e dizer: ainda estou na casa dos 20! Um ano também para adiar qualquer possível crise existencial, por mais tola que seja. E responder: "não, ainda não ganhei meu primeiro milhão de reais" (quem sabe eu ganhe na mega-sena antes disso).
Será um longo ano em que vou maturar idéias e planos. Pensarei seriamente em sair de casa e ter um aquário. Talvez eu acabe de escrever meu livro. Pode ser que eu me matricule numa academia de ginástica para adentrar o rol das trintonas com corpinho de vinte. Existe também a possibilidade, ainda que remota, de me aventurar no que se chama, em jargão jurídico, "união estável", com a condição de ter cachorrinhos de estimação. Vou decidir se terei filhos ou não. Vou plantar uma árvore. Lerei A Montanha Mágica de Thomas Mann, porque Ulysses vou ler aos quarenta. Talvez eu leia Dublinenses ou Retrato do Artista quando Jovem como aquecimento.
Vou aprender a dançar tango. Dedicarei mais tempo à cozinha de invenções suzihonguianas. Primeiro item do menu: espaguete ao molho "curry" com iscas de filé. Beberei menos, mas vou me embriagar mesmo assim (não me perguntem como, eu não conto, é segredo). Quero começar a lutar box - para tanto vou comprar um saco de pancadas e nele colar a fotografia dos meus desafetos.
Ouvirei mais música, mais conversas ao pé do ouvido, mais risadas de minha sobrinha, mais histórias de meus amigos, mais piadas de japonês e mais silêncios de fim de tarde. Tomarei mais yakult (viu Mlle. Helô? Certo, Monsieur Matusca?) e comerei mais barrinhas de cereais e menos caixas de bis. Talvez não coma mais chocolates. Tentarei dormir menos, também.
Talvez opere minha miopia numa das inúmeras tentativas minhas de enxergar o mundo de uma forma DIFERENTE. Cantarei mais no chuveiro, fumarei menos no trabalho. Será um ano em que perceberei mais ainda a existência dos meus braços e ombros, da coluna e das costas, dos pés e tudo o mais que tanto reclamam minha atenção e doem em dias frios. Mas fica aqui registrada uma meta: irei vencer, a qualquer custo, todas as crises de depressão e mania que ameaçarem estragar um dia sequer dos meus vinte e nove anos.
Tudo vai ser diferente
9.3.04
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