A neta de sete anos mostra o desenho de uma casa no alto de um morro, e o avô sorri e diz muito alto que o desenho é lindo, onde ela aprendeu a desenhar tão bem? Ao lado dos dois, o neto de quinze revira os olhos com nojo. Deixa de ser puxa-saco, vovô! O vovô olha chocado, não diz nada. O neto de quize está chocado também mas é com a puxa-saquice do avô. Coça a cabeça, perplexo. Caraaaalho, como o vovô é puxa-saco...
Ou cinco visitas sendo apresentadas a um jardim: ah, que belo jardim; quisera eu ter um jardim como esse; puxa, se eu vivesse aqui, vinha ler todas as tardes naquela rede, que coisa linda; o que é aquilo, uma carpa? – até que a quinta visita, sombria até aqui, sombria no meio da grama, grita: “Puta merda, seu jardim até que não é de todo ruim, o que estraga é esse bando de puxa-saco... Eu até viria aqui mais vezes, mas com essa atmosfera não dá! E tem mais, tua filha é vesga e tua mulher é feia de doer! Eu sou muito franco. Passar bem.”
Os francos do mundo. Que charme, que charme. “Cara, você acha que amigo é quem diz o que a gente quer ouvir? Amigo é quem diz as verdades doídas na nossa cara.” Não é não, mas continuemos. “Por exemplo, vou te dizer uma verdade que todo mundo pensa mas ninguém tem coragem de dizer. Eu queria ir pra cama com a tua namorada. Taí, falei. Todos esses caras também querem, mas ninguém fala...”
Em todo grupo humano (macacos, suponho, sendo menos bobos) há um tipo sombrio que detesta todos os outros porque ninguém é, veja, tão sincero quanto ele; ninguém tem sua rudeza quase santificada, sua rudeza pura.
Alexandre Soares Silva
30.3.04
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