Ocupações maravilhosas*
* Título plagiado de J. Cortázar - Histórias de Cronópios e Famas
Quando era criança, uma de minhas ocupações preferidas era pegar um mosquito, desses caseiros, e colocá-lo próximo a um formigueiro para que as valentes formigas o levassem para dentro.
A operação
Primeiro passo: captura do inseto. Colocava a mão direita aberta, em posição vertical, a uns trinta centímetros da presa. Após alguns segundos de concentração, movimentava a mão rapidamente em direção ao alvo. Quando a mão estava a uns dois centímetros do mosquito, fechava-a. O fechamento da mão devia coincidir com a tentativa de fuga do pequeno animal. Quando tudo era feito com precisão cirúrgica, tinha o mosquito preso em minha mão.
Segundo passo: preparação do inseto. Introduzia os dedos da mão esquerda na mão direita ainda fechada. Pegava o mosquito. Então, com a mão direita, retirava-lhe as asas. Nesta etapa o bichinho fica muito parecido com um Fusquinha. Algumas variações: Quando queria uma batalha mais violenta, deixava o mosquito com uma das asas. Quando queria dar uma chance ao inseto, deixava as asas e lançava-o à parede com alguma força de modo que ficasse atordoado. Com isso, caso se recuperasse do impacto a tempo, poderia escapar das formigas. Acontecia, às vezes, de o mosquito voar levando uma formiga presa a uma de suas patas. Gostava de ficar imaginando a sensação da formiga ao voar pela primeira vez na sua curta vida.
Terceiro passo: colocação do inseto no formigueiro. Colocava então o mosquito próximo à entrada de um formigueiro. Era preciso cuidar para que o formigueiro fosse de uma espécie que inclui mosquitos em sua dieta alimentar. Depois disso bastava esperar que as formigas achassem o inseto e começassem uma árdua batalha para levá-lo para dentro do formigueiro. Várias delas pegavam-no pelas patas e arrastavam-no, não sem alguma dificuldade, para a sua despensa. Freqüentemente, uma formiga subia nas costas do inseto e de lá observa a movimentação. Até hoje não sei se era a líder que orientava as demais ou se era apenas preguiçosa e gostava de participar sem fazer força.
Em breve:
Como fazer um lança-chamas com uma seringa de injeção (não façam isso em casa, crianças).
Como fazer uma armadilha muito pouco funcional para matar ratos (podem fazer em casa, mas não dá certo).
Como matar (involuntariamente) uma galinha de hemorragia interna (para estômagos fortes).
PS. Meus pais diziam que quando eu morresse sofreria muito ao passar pela "terra das formigas". Mas essa ameaça me soava um tanto abstrata e não tinha um efeito dissuasório dos mais significativos.
neosaldina com coca cola
19.3.04
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