5.3.04

Tanque ao Sol

Havia ali um ouvido, moldado na areia. Dele pulularam sepulturas de coisas que ainda não foram completamente obliteradas, e assim se fizeram caminhos que davam para o mar e de costas para mim. Supus a pele opaca de tanta surra, mas era descuido mesmo, puro. As mãos só viam o que queriam, os sentidos faziam mais e mais linhas por ali, embora se perdesse nos destinos. Sem crença em sorte, mas em escolha. Me escolhe? Me escolhe de novo, por favor não, por amor? Ontem eu pensei nesse favor de amar e descobri que a paga veio em triplo e meu saldo estava negativo e que não adiantava curvar-se em abraçar joelhos e chorar que toda lágrima não havia mar para encher copo. Fui lavar roupa, para gastar o corpo e a idéia.

Salomé Descalça

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