4.3.04

Tem coisas que só acontecem comigo...

Na primeira vez que olhei pra cara de um dos meus instrutores da auto-escola eu vi que ele tinha pinta de... err ... "lover boy". Cada braço que é uma coxa minha, gel no cabelo, óculos Hunk, roupa colada, todo uniformizado de prostituto mesmo. Só que eu - Nani e Mel, agora vcs vão ficar orgulhosas de mim - controlei minha "Joselitisse" e não abri minha boca.
A primeira aula com ele foi bacana. Eu irônica, ele risonho. Ria que parecia relinchar a cada piada que eu fazia. Imaginei que talvéz não fosse gel no cabelo, talvéz fosse o cérebro em pasta incolor e inodora que sai pelos poros cada vez que ele faz força e se espreme para pensar. Como me irritam as pessoas que acham que o belo é essencialmente o que se pode ver...
Bom, sei que na primeira aula não aconteceu nenhum tipo de intimidade - aqui, leia-se intimidade como "ficar a vontade para se falar qualquer coisa", tarados. Minha pinta de rabugenta geralmente mantém as pessoas longe em primeira instância. Em primeira instância. Porque eu tenho um num-sei-quê que leva rapidamente as pessoas a agirem como se me conhecessem a milênios, e é aí que a encrenca sempre começa, porque eu abro as portas, nego entra e põe os pés no sofá, depois acha ruim quando dez anos depois eu reclamo - com essa sutileza de mamute que deus me deu. Enfim...
Hoje ele começou a me elogiar, disse que eu parecia muito mais nova do que realmente sou, cutucou meu piercing, e eu só olhando torto. Quem me conhece, mesmo que pouco, sabe que a tática do elogio para mim tem efeito contrário. Às mulheres comuns, os elogios, a mim, as criticas, por gentileza. Essa arapuca não funciona com a patinha aqui.
Numa certa altura a coisa ficou meio entediante, porque o serviço dele era basicamente me fazer desaprender a dirigir errado. Explico: sou daquelas que tem vicios de quem aprendeu a dirigir "de menor na vila", como não tirar o pé da embreagem, não ligar a seta para estacionar, apoiar o braço na janela e etc.
Foi aí que papo vai, papo vem, e eis que ele começa a me contar sobre o outro emprego dele. Como chamar essa profissão, éhh, "sexador explícito" num teatro da rua Aurora. Sim. O mancebo faz sexo para dezenas de onanistas e afins num teatro mofento da rua Aurora. Ah, e faz programas também, se as garotas (e demais) aí quiserem o telefone, eu providencio.
Corta para a cena nas imediações da marginal Pinheiros. Eu dirigindo pra onde eu queria, ele sentindo-se na mesa do bar, me falando todo o portifólio dele, quanto tempo ele leva e como ele faz para uma mulher (como diz ele) "chegar lá". Falou sobre a barba, sobre o cabelo e sobre o bigode. No começo eu pensei que ele estava tirando sarro da minha cara, mas as histórias tinham detalhes de romance policial.
Me veio o ímpeto de perguntar se eu tinha cara de recalcada sexual pra ele fazer tanta propaganda do quanto ele satisfaz as senhoras insatisfeitas. Mas não abri o bico para não virar personagem no entusiasmado monólogo dele.
Tempo vai, tempo vem... Pense numa mulher ouvindo isso uma hora e meia. E sem mais nem essa ele se vira e me diz, abre aspas, o cara que conquistar esse seu coraçãozinho é o cara de mais sorte no mundo, fecha aspas. Pronto. Deveria eu puxar o freio de mão, berrar "Me possuuuuuuua! Me possuuuuaaaaaa!" e depois deixar uma notinha de 50 na cueca boxer dele?
Essa dança do acasalamento torta já subestima demais minha inteligência, que já não é grande. Isso já é covardia.
Eu mereço.

Madame Limbo

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