16.4.04

Em cima da mesa de canto do quarto punumbroso

Orlando,

Tive que me ausentar de seus aposentos muito mais cedo do que imaginava. Recolhi meus brocados e jóias de seus dedos, quase lhe arranquei um dos olhos (era meu de direito), pedi que os Deuses trouxessem seus sonhos para perto de você algum dia. Cansei-me de esperar o chá que nunca esfriou. Lembro-me vagamente de nosso último diálogo e percebo agora o quanto errei em retornar a sua vida assim sem avisar, acho que nunca parti verdadeiramente. Somos adultos, é suposto que não erremos mais com tanta peripécia. Havia me feito diferente nos últimos tempos (não foi suficiente) e até cheguei a acreditar no possível enlace harmônico de nossos gostos, mas as possibilidades foram sendo reduzidas em fieiras. Agora parto simples, sem falsas esperanças, entendendo, como disse, a providência do usual e a potencialidade das luzes que fazem parte do seu estojo. Nada mais prende-me a ti, em certa forma, a não ser a memória e essa missiva. A sorte é pouco perto de ti. Beijos, como sempre.

Orlando.

Sonho by Ernesto Diniz

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