25.5.04

Por que não acredito nos médiuns

Trecho de um texto escrito por Raul Seixas aos 13 anos de idade:
"Cirilo conta coisas engraçadas: hoje entrou contando que seu colega de sala morreu com massa de modelar no nariz. Falta de ar (sabe como são essas coisas...).
Dei-lhe uns trocados e ele me cuspiu. Mamãe rosnou na cozinha. Fingi que chorei para ela morder Cirilo.
Ninguém ligou.
...
Tomei o ônibus na esquina. Estava cheio de gente, gente com cara de viajar de ônibus. Caras sérias, porque em ônibus só se viaja sério; é o normal, é o certo."

Agora um trecho supostamente ditado pelo mesmo Raul Seixas a um tal Nelson Moraes, médium, em março de 2002:
"Muitas vezes, embalados pelo sonho e pelo lirismo dos poetas e pelo modismo estimulado pela sociedade de consumo, deixamos de enxergar a realidade à nossa volta e buscamos distrair a nossa consciência das responsabilidades inerentes a verdadeira finalidade da vida, conseqüentemente, alteramos o valor das coisas e os conceitos sobre juventude, lar, família e objetivos, deixando cair vertiginosamente o nosso amor próprio e o amor por aqueles que nos são caros. Nesse conceito equivocado, tudo se torna lícito, até mesmo o que não convém. Os que viveram esse tipo de liberdade na Terra, hoje superlotam os vales das sombras à semelhança de larvas, arrastando-se entre o limo e as escarpas dos abismos espirituais, situação em que, alguns casos, podem se prolongar durante séculos.
Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!"

Eu quero ver quem é que me convence que alguém que aos treze anos escrevia tão bem, com idéias originais e uma percepção irônica do mundo, tornou-se um cuspidor de clichês semianalfabeto depois de morto. E o caso do Raul Seixas é só um exemplo. Pelo que percebo dessas tão populares obras psicografadas, ou das tais pinturas feitas por espíritos, a morte é mesmo um treco horrível: além de nos tirar a vida, arranca-nos totalmente o talento. Coisa triste.

Jesus, me chicoteia!

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