Cuba, Ilha de Magia e Chatice...
Naquela época do ano a casa ficava infestada de romancistas-que-falam-de-cuba. Giravam em torno da lâmpada ouvindo Elis.
-Foram pra debaixo do sofá.
-Tem um atrás do quadro.
Eu tentava não matar: recolhia num copo de requeijão e a ajuda de um jornal, e os soltava do outro lado da estrada, com mão trêmula.
-A resistência heróica...
Quando eu ouvia isso de resistência heróica às vezes voltava e matava mesmo, pisando de chinelo e depois esfregando o chinelo na quina da calçada.
-Ai, tá mexendo a perninha ainda.
-Tá fazendo discurso.
-Fidel é conhecido por sua grande coragem pessoal, seu grande carisma...
Eu pisava de novo.
Às vezes um deles caía no meu cabelo quando eu estava escrevendo e me dizia que o romance é uma grande ferramenta para aferir a saúde política de um povo, essas coisas. Ou me pedia para entrar no pen club de Osasco, presidido pelo grande Dr. Mirandinha, dermatologista e poeta, autor do grande e injustamente esquecido "Veredas da Resistência" (ed. COGITEC, 1976). Eu levantava em pânico dizendo que nem morava em Osasco e dando tapas no pescoço, sentindo o romancistinha de boina correndo pelas minhas costas.
História verdadeira:
Na palestra do romancista A, o romancista B cutuca o romancista C e diz baixinho:
-Se eu algum dia virar tamanha besta solene, me mata.
Muita gente gostou da palestra do romancista A - mostrou grande indignação moral temperada pelo seu conhecido humanismo. Na saída, foram todos comer feijoada e terminaram cantando London London.
Nesse ponto chega o dedetizador.
-Essa época do ano... - diz, coçando a nordestina cabeça.
Os verdadeiros fregueses do restaurante ficam consternados:
-Quem são? Parecem humanos...
-Estavam usando talherzinhos e tudo!
O romancista A grita "Por Fidel!" e cai morto da lâmpada. Nobremente bóia na salada de frutas. À guisa de epitáfio ouve-se Dona Salete, que dá aula de matemática para alunos da sexta e sétima série no Colégio Arquidiocesano e secretamente acha Cuba superduper, dizer alcoolizada a grande frase, "ai gente, também não precisava matar."
Direto da lâmpida de Alexandre Soares Silva
6.6.04
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