Drops da Fal
Ela acordou de novo, respirou fundo de novo, e de novo trocou a areia do gato, tomou banho, passou maquiagem, botou roupa bonita. Levou a menina na escola outra vez, tomou café na máquina do primeiro andar de novo, e foi produtiva e positiva o dia todinho, como sempre. Hum, e feliz. Ela foi feliz também, claro, cada hora do dia. Disciplina é tudo nessa vida.
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Tenho lembrado de cada coisa esquisita, das suas evasivas, do seu sorriso de menino, do meu desencanto, de tudo o que não fomos e das veias da sua mão.
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Não tenho medalhas no peito, não recebo pensão especial do governo, meu olho de vidro e minha perna de pau são imperceptíveis e ninguém faz continência quando eu passo. Minha identidade secreta de sobrevivente da batalha permanece desconhecida do grande público.
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Ela suspira na frente do espelho enquanto passa creme para a área dos olhos e constata que está mesmo muito velha para amigos "sinceros".
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Ele tinha cabelos compridos, olhos cor-de-mel, mãos bem magrinhas, um certo quê de hippie, o que, nos anos 80, era de mal gosto, uma família complicada e amigos divertidos, com quem desfilava pelos corredores. Eu quase morria, e adorava quase morrer, adorava aquele sofrimento, adorava ser invisível, adora ter surtos de choro no meio da aula de geografia. Ah, ter 15 anos e ser babaca sem hesitação ou escrúpulos.
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Faz tanto tempo assim que eu não amo você? Parece que foi ontem que eu me obrigava a esquecer sua voz, sua gargalhada, seu cheiro e seus encantos. Putz. Foi ontem.
¡Drops da Fal!, um clássico
24.7.04
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