24.8.04

Páscoa

"Estar morto" depende muito da sua definição sobre estar vivo. Àqueles que acharam a definição simplista: peguem aqui. Duvido que já tenham pensado o conceito desta forma. Babacas.

Digo isso porque, aos seus olhos, devo estar bastante viva, sim. Não digito diretamente de algum caixão subterrâneo na capital do Paraná, impelida pela força da catalepsia. Meus dedos se movem sobre o teclado com a natural desabilidade, o ar entra e sai dos meus pulmões. Os olhos reconhecem os caracteres na tela, sinto na boca o gosto do doce recém-mastigado, sou capaz de identificar os Chemical Brothers tocando "Block Rockin’Beats" saindo da caixa de som. Usei meu discernimento e meu conhecimento para selecionar a música, ou seja, tudo se enquadra na definição de algum intelectual que despreza as dores de dente* "penso, logo existo".

Penso, logo existo, é uma teoria que prova que boa parte da população mundial está morta de direito, mas não de fato. Viver é qualquer coisa que vai além do raciocinar e executar tarefas. Hoje, sou uma dedicada executora de funções – nada muito além, nada muito aquém disso. Chato pacas, desinteressante, repetitivo, cíclico. Quer provar um pouquinho? Vem cá dentro das minhas calças que te mostro o quanto isso é gelado. Não, não. Melhor que te mantenhas fora dela: aqui dentro é quentinho e calor é prova irrefutável de vida.

Te digo que morri porque olho pra trás e vejo pouco, olho pra frente e não enxergo. Porque palpita no meu peito um propulsor de nada, porque as telas que miro estão todas em branco, porque as páginas do meu livro se apagam assim que acabo de escrevê-las. Vamos aguardar o terceiro dia e ver como fica, afinal.

Setecétera

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