28.9.04

Quatro dias enfiado numa pretinha sueca 

Feriado no Rio. Cidade suja e em estado de sítio, mas os cariocas fazem cara de paisagem para a violência como fizeram para a ditadura. É hereditário. Me resta o prazer de rever os olhos azuis/verdes que eu adoro, embora eu ache que ela seja ainda mais instigante fora dessa confraria de late teens que se reúne para falar de prole.

Chega de reclamar, afinal quem esta apaixonado não pode ficar se lamentando pelos cantos. E essa paixão que me proporcionou tanto prazer foi uma pretinha sueca com quem passei o final de semana. Grande, mas não muito, bonita demais, estilosa, muito sexy mesmo. Bebe bem a moça. O curioso é que era uma sueca preta. Forte, mas atlética. E já estou com saudade, vamos nos despedir hoje. E ela ainda gostou da minha filha, o que a torna uma figura especial na minha vida. Essa sueca é a Volvo V50. Um brinquedo de R$176.000,00 que me injetou doses cavalares de endorfina misturada com serotonina.

O acabamento é impecável, o console central é a peça mais bonita e funcional hoje em produção, o conforto para todos os passageiros é superb e as cadeirinhas infantis embutidas no assento traseiro, um sucesso com a filhota.

(…)

Passamos 1200 km juntos, e descobri uma brincadeira muito divertida. Na estrada, a 140 no cruise control, incautos ao volante de Audis A3 colam na sua traseira e piscam os faróis. Na certa eles esperam que o tiozinho na perua vá colocar a seta e ir para a direita. Não. Smash the right pedal on the floor e coloque no rosto o seu melhor sorriso. É essa imagem que vai ficar registrada na memória do ex-perseguidor. Os 220 cv da V50 são tão bem balanceados que você esquece que esta num carro com tração dianteira.

(…)

Na volta para o São Paulo, estrada vazia, deu para fazer várias passagens a 215/220 km/h. Controle total. Frenagem espetacular. E agora o jogo gostoso de irritar donos de A3 Turbo também funcionava com donos de Golf e outras coisinhas tunadas. E eu com minha pretinha stealth, carro do tio...

Muitos sorrisos e varias passagens deliciosas com o turbo soprando me entregaram ao final da Rodovia Ayrton Senna.

Quase chegando à marginal, mais um par de faróis de luz branca voltou a me provocar. Ok. Mas havia algo de estranho no ar. Eram 02h10 da manhã, a silhueta do carro era baixa e o som...nossa...a música de um V8 com 400cv. Ferrari 360 Modena. Visão mágica coroando o final de uma viagem ótima. Oportunidade única. Quando ele colou, eu acelerei. Nos regimes médios, o turbo cheio, deu para fugir da 360. O piso da marginal também era melhor negociado pela suspensão da Volvo.

Mas o cara provou que era um dono de Ferrari. Partiu para a briga. Não iria tomar pau de perua. Os dois trafegando na Marginal a 210km/h. Redução para a Ponte das Bandeiras. O câmbio automático segurando o ímpeto do câmbio F1 sendo usado na ponta dos dedos.

Cheguei primeiro à Av.Tiradentes. Dois faróis na frente. No terceiro, o rugido da fera. 8000 rpm gritando na madrugada. Partimos juntos, mas a diferença de 180cv apareceu. Minha última visão foi a traseira da 360 gritando sua música metálica no Túnel da 23. Eu estava a 215 km/h. Ele eu não sei. Mas me senti em Mônaco.

Fui para a casa com um sorriso que nunca mais vai me largar. É o mesmo sorriso de quem já nadou com um great white, de quem já viu uma jubarte e sua cria nadando, de quem já viu um Ovni. Um momento único e especial, coroando essa jornada deliciosa com a minha pretinha sueca.

L'ENCRE INVISIBLE

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