29.10.04

Falsos profetas e promessas de uma terra que não existe - ou deixará de existir brevemente

Na porta da escola, uma criatura de boina me perguntou se eu gosto de poesia e ainda teve a bênção de receber o movimento da minha cabeça se movendo negativamente e não um grunhindo, uma careta, um tapa no cocoruto, derrubando a boina dele no tráfego, ou coisa que o valha. A criatura, vendo eu entrar na escola - que não ensina nada - e com a pasta de desenho em mãos - que só serve pra dificultar minha locomoção e esmurrar acidentalmente velhinhos e velhinhas nos ônibus e metrôs de São Paulo - riu pseudo-sarcasticamente, porque eu tenho uma religião, e nela se baseia que pessoas que usam boina, ou vendem poesia na rua, abordando pedestres atrasados, não tem capacidade intelectual para atingir o nível do sarcasmo bonito, o sarcasmo maroto e malandro dessa rapaziada traquina, e disse "Estuda arte e não gosta de poesia? Humpf", e eu gastaria toda minha saliva (estou resfriada, ainda por cima) cospindo nos seus livrinhos, picotando a boina em mil pedacinhos, torturando ele num quarto do Hotel Melancia do Ruy Othake, derrubando ele de alguma rampa do Oscar Niemeyer e gentilmente penetrando um quadro com círculos e quadrados e outras formas geométricas chamadas arte na cabeça dele, já desboinada e sangrenta, mas eu estava atrasada.

*

Nada bom pode vir com o Verão que não seja neve. Cansada, cansada.

Fabulosa e Inútil

Nenhum comentário: