18.10.04

SIX YEAR HITCH

ou HAPPY ANNIVERSARY TO US

Foi assim : sete anos atrás, ele muito a fim de mim, mas disfarçando porque os amigos querendo brincar de matchmakers o irritavam. Eu muito a fim dele, mas sem mostrar porque eu nunca fui mulher de dar o primeiro passo. Como parecia que ele não queria nada comigo, mas também era uma pessoa sensacional com quem conversar, beber, rir e tudo o mais que se pode fazer de bom de roupa, eu me conformei em sermos amigos. E fomos muito amigos, sempre os últimos a ir embora, sempre esperando os garçons começarem a empilhar as cadeiras e mesas pra pedir a saideira (ele chope, eu uísque ou batida de vodka). Eu, no máximo de assanhamento possível para minha tímida pessoa, mandei pra ele um CD do Chico que ele não tinha. Ele me mandou um livro. Tanto um quanto o outro com dedicatórias fofas - porém decentes. E continuávamos amigos.  Um dia, saindo de um barzinho, chuviscando, os dois malucos saíram cantando e dançando na rua (Singin’ in the rain, claaaaro) e quando ele me levou até o carro, se despediu com um abraço. Não, não um beijo, só um abraço, mas daqueles que dá vontade de fincar uma bandeira no peito do rapaz e declarar propriedade, abuso, uso, fruto em natura e em compota com calda e chantilly. Mas ficou nisso. E continuamos amigos. Até o dia em que, aniversário da minha irmã – comemorado em barzinho, porque nós éramos todos uns paus-d’água sem-vergonha – o céu caiu. Choveu como se Noé fosse passar dali a dois minutos procurando casaizinhos animais pra um passeio de iate. Na hora de ir embora, nada da chuva diminuir. Um lago ocupava uns três metros entre a calçada e a rua, e eu parada fazendo beicinho, com dó de colocar meus sapatinhos de boneca novinhos na poça. O que pensam vocês que ele fez ? Me pegou no colo (eu pesava muito, mas muuuuito menos na época) e fez melhor que Moisés separando as águas : enfiou o pé na lama sem piscar e me carregou além da enxurrada, até o outro lado da rua. Por mim, podia ter carregado direto até o quarto dele, hohoho. Sete meses depois disso, a gente se casou. Nós nunca concordamos muito sobre a data exata em que começamos a namorar, mas pra mim foi naquele dia. Não é de se espantar que eu ame tanto a chuva. É que no meu coração está sempre chovendo, eu sempre peso cinqüenta quilos e o gatinho mais lindo do mundo continua me levando no colo até um lugar aonde eu não quero chegar nunca, nunca, só pra aproveitar o passeio mergulhando o tempo todo nesses olhos lindos, dourados e melados que ele tem.

Cyn City

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