19.1.05

Correio Sentimental: P & B

Suponhamos que ela seja canhota e suponhamos que ele seja filho único. Se acreditarmos que ela gosta de mussarela de búfala, e que ele sabe de cabeça qual é a raiz quadrada de 18496, é possível calcular quantas vezes os dois tomaram coca-cola durante o ano passado. Oh! É extamente o mesmo número! Deve ser um sinal. Então está tudo certo, vão namorar, casar e ter filhos. Um cachorro talvez, apesar de ela gostar de gatos. Os dias passam, a gasolina sobe, o Globo Repórter apresenta um especial sobre a piracema, outro sobre a pororoca. Eles ficam gripados juntos. Parece tudo perfeito. Mas falta algo, talvez um código binário.

Um dia, 792 horas depois que eles se conheceram, ela passou a usar o cabelo de lado e não mais partido no meio. No dia seguinte o celular dele foi clonado. Ele achou que o cabelo deu azar. Ela não conseguiu decorar o número novo. Viraram história. São como páginas rasgadas de um mesmo caderno universitário de 24 matérias. Para que tantas páginas? Tanto espaço para escrever sobre momentos como esse, que com o passar do tempo não passam de fotografias desfocadas.

Ela fala que amou. Ele disse que amou. E feliz aquele que sofreu e sentiu por cinco segundos a intensidade da gota do limão, que caiu certeira no olho, no momento em que ele foi espremido. Foi amor em preto e branco. Mas não mudo. E sim, com o charme cinza azulado dos filmes de antigamente. No final, ela bloqueou ele no MSN. E ao saber desse ato, ele pensou: "Ingrata. Eu coloquei três coraçõezinhos para ela no meu orkut."

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