19.1.05

Sexta-feira, Janeiro 14, 2005

Os dedos batem com certeza no teclado. São os dedos que têm certeza, não é a mente. A mente não tem mais certeza de nada. A solidão em que me encontro, solidão de amigos, não de família - os amigos, não vejo desde o dia primeiro, quase nenhum, a família tenho visto sempre - a solidão em que me encontro e o livro que terminei hoje de ler, um capítulo, um copo d'água, um capítulo, outro copo d'água, outro capítulo, uma ida ao banheiro e outro copo d'água, o último capítulo, me fazem beirar algum tipo de loucura.

Ando lendo os números trocados. Li duas vezes o parágrafo onde havia "vinte e sete meses comendo a mesma merda" e li "vinte e seis". Duas vezes. Os números trocados ocorreram em número maior de oportunidades, no relógio. As confusões faziam parecer que o tempo estava andando pra trás. Quando comecei esse capítulo eram 2:20, agora, que começo este, são 2:14... Confusões assim. Será a loucura?

E eu, sozinho, no balcão do bar do Instituto Goethe, porque chovia muito e eu não podia ir pra casa naquelas condições, comendo chucrute, tomando a cerveja que esquentava na garrafa, pois eu não podia bebê-la toda enquanto ainda estava gelada, por uma questão física, eu pensava em várias coisas, olhava os anúncios, ouvia trechos de conversas das pessoas, olhava para a vela cheirosa - porque o bar tinha estilo e velas cheirosas, e eu jantava chucrute à luz de velas, sozinho.

Mas os dedos não erram, e quando erram, reconhecem e corrigem sozinhos, sem o auxílio dos olhos.

Reticências de um Poeta Morto

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