SOLIPSISMO
Depois de me debruçar em estudos obsessivos sobre o solipsismo fui levado a inferir que no mundo só existo mesmo eu, o excelso autor dessas linhas. O ambiente, as demarcações geográficas e o cosmo que me rodeiam não passam de benevolente criação minha. Claro que você também, provável e almejado leitor. Você existe unicamente por me ler; assim que seus olhos se despregarem destas linhas sua existência finda. Lamento: nunca houve um antes em sua vida, como também pode ir esquecendo o depois. Evidentemente você não vai se lembrar de haver desistido da leitura porque quem deixa de ser, salvo engano, não se lembra. Se eu fosse você não pararia de me ler pelo resto da vida – após o “mais” lá embaixo voltaria ali ao “Depois”, e assim por diante. Mas isso, claro, também é uma esperança tola que nem vou insistir em lhe inculcar. O mundo é minha grande invenção; o solipsismo me deu uma razão de viver. Meu psiquiatra comentou ontem que surtei após ler tanto sobre o assunto, mas a psiquiatria é uma invenção que realmente preciso aperfeiçoar um pouco mais.
Ao Mirante, Nelson!
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