18.3.05

Ele chegou sem roupas nem pasta em casa. Ela só perguntou da pasta. Não que ele se importasse, mas, diabos, ele estava pelado. Não que ela se importasse, afinal, ela não se importa mesmo. E assim, pelado, ele foi ler o jornal. E assim, sentada, ela via a cena como se quisesse mudar de canal. Se pudesse.

Determinar de onde vem a culpa é inútil, uma vez que já meteram a colher na relação. O terapeuta. Terapia de casal. Encontre algo novo. Mude a rotina. Certamente, a terapia era uma quebra, mas só contribuiu para acertarem os horários. Das 19 às 20 horas, de terças e quintas, eles brigavam. E o terapeuta anotava. Ou desenhava. Às vezes só rabiscava. Nunca disse nada, por medo de estragar uma briga que, apesar de tudo, era muito boa.

Era o que tinham de melhor: as brigas. Sem dúvida, eram mestres nisso. Os insultos cada vez mais espetaculares, aprimoravam o vocabulário do casal – e dos vizinhos. Ninguém em sã consciência se atrevia a parar algo tão perfeito, tão fluído, tão caloroso.

Até que o terapeuta resolveu falar. Nem ele lembra o que foi que disse. Mas, isso foi o fim. O que ele disse realmente acabou com as brigas. E, embora ambos ocasionalmente tentassem entrar em conflito, de uma maneira ou de outra, o conselho do terapeuta pôs tudo que era de bom no relacionamento à perder. Para os vizinhos, assistir aquele casal agora era como ver uma criança autista morrer de tristeza.

Ele e ela foram vistos de mãos dadas na rua, sábado passado.
Tudo que é bom tem um fim.

Chicked Dog

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