17.9.05

"But it's oh so nice to come home"

Eu sei, eu sei, é o “ciclo da vida”, ou whatever, como diria um documentário do canal Discovery sobre as rãs milongueiras da Baixa Patagônia, mas não há como escapar à melancolia quando, no posto de filho, você se vê forçado a fazer pelos seus pais mais ou menos a mesma coisa que eles passaram os primeiros 15 anos da sua vida fazendo por você. Deve haver quem se encante com a simetria, mas eu me horrorizo. Não é que o dever de agir como leal guardião –que é parte inextricável do meu make-up genético- me seja completamente repulsivo (ainda que, yo, it does not come natural). Mas cumprir o dever torna inevitável encarar a fragilidade das pessoas que um dia foram as mais fortes da sua vida.

Tipo, quando, exatamente, as manhês ficam velhas? Surge o dia em que você vê a soma daquelas pequenas dificuldades resultar em veredicto, em que você percebe as pequenas hesitações, a falta de vontade de se adaptar, a decisão de vestir o pijama moral e assistir com horror à vida que a televisão traz. É como se de maneira invisível mas inevitável elas assinassem o contrato que as vai tornar parte do passado –algumas conformadas, algumas brincalhonas, algumas com toda a amargura de uma vida que talvez não tenha transcorrido exatamente como planejavam.

E se bem ternura, instinto protetor, nostalgia e compaixão sejam aparentemente os motivos dominantes, na verdade tem dose considerável de egoísmo e medo fervilhando no caldinho dos seus sentimentos. Na hora em que a mamma assina o contrato que faz dela velhinha, yo, isso oficializa a idéia de que uma hora dessas ela não vai estar mais com você, e igualmente oficializa o fato de que a maturidade chegou, que é hora de você adquirir certa gravitas (que você sabe que nunca vai ter). Quando a mamma esquece a receita do prato mais tradicional da família, que você pediu só pra puxar assunto enquanto cozinha para ela em um desses ritos de passagem que filme americano cretino adora, tem o final de uma vida e o final de uma infância pairando entre o fogão e a sala. Melhor aumentar o Sinatra, ignorar os protestos quanto às pernas cansadas e tirar a mamma pra dançar. Pode ser a última vez.

Filthy McNasty

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