Like they do on the Discovery Channel
Das oito mesas do café, apenas duas estão ocupadas, no começo de uma tarde hibernal de sábado. Três moleques asiáticos com cara de calouros na universidade vizinha conversam sobre esportes, em uma delas, enquanto uma discreta, sexy e bonita thirtysomething lê um livro e de vez em quando anota alguma coisa em um desses ridículos caderninhos que só mulheres carregam, na mesa ao lado.
Os meninos de vez em quando reduzem o volume de conversa ostensiva e cochicham alguma coisa entre eles, lançando olhares cobiçosos para a leitora, que continua absorta. A barista me serve um segundo espresso, e sussurra: “Eles estão tentando tomar coragem para falar com ela há 45 minutos”.
É o tipo da coisa que a gente nunca veria no canal Discovery –três coalas discutindo qual é a melhor maneira de abordar uma onça. Da minha banqueta, luto por impedir que manifestações de instinto paternal ou solidariedade masculina interfiram com a observação –afinal, a regra sacrossanta dos documentários é sempre deixar que a natureza siga seu curso, nesse caso específico despenhadeiro abaixo.
Os coalas dão o bote aproveitando o momento em que ela desvia os olhos do livro e olha para o balcão, à procura da garçonete. Ela sorri e inclina a cabeça em cumprimento milimétrico aos meninos que estão praticamente acenando para ela. Um deles se levanta, dá dois passos, e pronuncia: “Professora X.” Ela sorri: “Mr. Kwang”.
Coalas gaguejando são um espetáculo triste demais até pro canal Discovery. Permitam-me, portanto, lançar discreto véu de silêncio sobre os cinco minutos seguintes do episódio, e dizer apenas que o coala aventuroso tropeçou três vezes no metro e meio do caminho de volta à sua toca.
Em mais 15 minutos, um cinqüentão gordinho chega esbaforido, beija e abraça a professora gostosa, pede desculpas pelo atraso. Ela sorri lubricamente, e os dois saem abraçados do café. Os três coalas suspiram, um tanto frustrados e um tanto satisfeitos porque escaparam vivos. Um deles primeiro olha em volta pra conferir se tem alguém prestando atenção, e a seguir sopra um beijo para o lugar abandonado pela majestosa felina acadêmica.
A natureza é uma merda.
Filthy McNasty
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