Gordo félodaquenga
Algum pulha, em um passado imemorial, lhe dá um livro do Jô Soares de presente. Aquela trolha fica na estante durante anos, amarelando, sem nunca ser aberta, até que um dia você vê que precisa de mais espaço para guardar livros que prestam e resolve juntar essa a outras tranqueiras para ver se consegue desconto em algum sebo. Você mostra pro dono do estabelecimento e, com desdém, ele fala: “Isso aqui não, tenho um monte lá no fundo e ninguém compra”. Você vai para outro sebo e o sujeito de lá diz: “Isso não vale nada, poderia servir em uma troca, por dois reais, mas eu já tenho outros”. Aí você pensa em doar para uma biblioteca, mas sua fé num futuro de melhores leitores o proíbe. No terceiro sebo, você muda a tática. Pega um livro e vai pagar. Na hora de sacar a carteira, tira o desgraçado da pasta e pergunta: “Olha, eu tenho esse livro, você pode me dar um desconto?”. A mulher, titubeante, diz que não interessa. Você aproveita o vacilo e implora: “Qualquer desconto serve”. Ela, sem convicção, topa. Você faz a transação rapidamente e muda de assunto: “Bonito sebo, é novo, né?”. Você ganha a rua com Berlim Alexanderplatz tendo custado dois reais a menos e a satisfação de ter livrado a sua casa de qualquer vestígio daquele gordo filho de uma puta.
pura Maldizência
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