9.5.06

Ainda sobre Corinthians x River (parte 3)

Quando a polícia sentou o pau em quem nunca pensou em apanhar, lá na cadeira laranja, eu fiz o caminho contrário novamente e voltei para a arquibancada amarela, onde tudo estava mais controlado. Encontrei o Pulguinha chorando, enquanto um outro rapaz, também chorando, o alertava sobre um associado gravemente ferido na enfermaria. Fui com ele até lá e o cenário era de guerra: um menino praticamente sem nariz, pessoas fraturadas, desfiguradas por causa de bomba, de pancada, de tiro de borracha. Policiais e torcedores, um deitado do lado do outro.

Saí de lá embasbacada, com uma tremenda vontade de vomitar e uma sensação de que tinha tomado uma garrafa de vodca sem passar pela garganta. Deixei o estádio pela porta principal, exatamente por onde tinha entrado. Do meu lado esquerdo, toda a cavalaria da Tropa de Choque com suas espadas enferrujadas. Do meu lado direito, chuva de tiro de borracha. E bomba. Bomba por toda a praça até a Avenida Pacaembu. Não passei nem pela esquerda, nem pela direita. Fui pelo meio até encontrar a primeira escadaria do Pacaembu.

Subi ouvindo uma menina dizer que nunca mais ia ao estádio, muito menos assistiria a jogos do Corinthians para não dar ibope. Eu ainda nem tinha me dado conta de que o Corinthians estava eliminado da Libertadores. Andei até a rua onde o irmão da Alê parou o carro, achei o Corsinha branco, sentei e comecei a tremer. Nessa hora, nenhum amigo estava junto porque tínhamos nos perdido. Absolutamente todo mundo se perdeu de todo mundo. Luquinhas também teria se perdido, assim como dezenas de crianças choravam sem os pais no meio de toda aquela confusão.

Quando me dei conta de tudo o que tinha acontecido, comecei a chorar também e só fui parar na sexta-feira de noite. Não era a eliminação do Corinthians, nem o medo de nunca mais ver meu filho por causa de um jogo de futebol. Não era só isso. Era uma frustração, uma derrota pessoal de quem tem a pretensão de mudar algo que está errado por meio do futebol e não sai do lugar. De quem não deu nem dois passos a frente, mesmo com todo o esforço.

(…)

Blog do Juca

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