9.8.06

Notas de viagem

— Georgette, como é mesmo aquela história do seu namorado espanhol durante a Segunda Guerra?
É depois do almoço, estão todos recostados nas suas cadeiras, e se voltam para Georgette, que não se faz esperar, e fala. Fala da invasão alemã, da tomada de Paris, da França ocupada, do racionamento, do medo, dos subterfúgios, das maneiras de se sobreviver ileso ou quase em território tomado pelos nazistas, conta tudo com sê porrtugué com forrt sotác de francé — e outras partes em francé legitim —, o que me fez perder muitos detalhes importantes, creio.
Sua história começa em Parrí e desce de trem até os Pirrinê, na divisa com a Espanha, onde morrava o tal namorrád. Seus olhos brilham mais que o normal e vão se enchendo de água enquanto ela se lembra dos detalhes, cantarola a Marselhesa, cita a casa construída em terreno binacional — último lote francês com fundos já em Espanha —, usada para certas clandestinidades, das boas e não tão boas, e de como a casa era usada para a travessia da fronteira, foi nessa casa que...
Toca o telefone.
— Alô? — atende alguém — Oi, querida! Chegou bem? — pausa — Sim, estamos todos aqui. Georgette está nos contando como perdeu o cabaço.

Branco Leone

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