5.10.06

Desamparados do mundo, uni-vos.

Meu amigo Rogério me falou esses dias que pretendia criar o movimento dos sem remédio. Sem remédio, veja bem, não são pessoas necessariamente sem conserto, mas gente pela qual não há (mais) nada a fazer. Para os casos-limite, ou existe medicação desenvolvida e testada, com resultados comprovados, posologia, acompanhamento, tempo de administração, efeitos colaterais, sintomas esperados, aprovação do Ministério da Saúde, ou ação judicial, ou providência administrativa, ou seguro, ou procedimento, ou solução. Para o restante, para todo o resto, para mim inclusivemente, não tem. Raciocinem comigo: se você tem síndrome do pânico, tem remédio; se você tem medo, não tem. Se você tem depressão, tem remédio; se você está triste, não tem. Se você tem DDA, tem remédio; se você é estabanado, não. Se você tem transtorno obsessivo compulsivo tem remédio; se você é um chato de galocha, não. Se você tem obesidade mórbida, tem remédio e cirurgia; se você tem uns pneuzinhos sobrando, não. Se você é anoréxica tem remédio; se é magra de ruim, não. Se você tem infecção intestinal tem remédio; se você tem diarréia nervosa, não. Se você não tem peitos, pode colocar silicone; se você tem peitos de fábrica e precisa de um sutiã sem enchimento que proporcione uma sustentação razoável, não seja especial para lactante nem se pareça com os sutiãs da sua avó, n.º 44 ou maior, não tem. Se você é assaltado à mão armada, vai na delegacia e presta queixa; se elegem o Maluf, não tem nada a fazer. Se alguém cruza o sinal vermelho e destrói o seu carro, você aciona o seguro; se o motoboy erra o cálculo e arranca o retrovisor, não dá nem o valor da franquia. Se você precisar de uma cirurgia, entra em licença saúde; se estiver com o saco cheio de tudo, azar o seu. Se protestam um título no seu nome e você não deve, você processa judicialmente e pede indenização; se o flanelinha cobra déreau o estacionamento na rua, você paga e não chia. Se o seu chefe lhe assedia sexualmente, você denuncia; se ele inventa uma piadinha cretina todo santo dia, você agüenta no osso. Se lhe quebram o maxilar com um soco, é crime; se lhe partem o coração, não.


Mme. Mean

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