29.10.06

Desperate house-hubby & wife

Minha empregada tá de férias.
Pediu quinze dias pra “estar preparando” – eu juro que ela falou des’jeitim – o aniversário do filho. Fiquei imaginando que tipo de festa de aniversário vai ser essa, pra precisar de duas semanas de preparação tão intensa a ponto de a moça, que só trabalha autodeterminadas 4 horas por dia, precisar de tooodas as suas horas de vigília pra isso. Deve ser um festão, periga até sair na Caras. Mas como isso não é da minha conta, paguei as férias e calei a boca. Até aí, tudo bem. Achei que quinze dias passariam rápido, a gente daria conta das tarefas de casa, chatinhas porém simples, e logo ela estaria de volta. Hah. A primeira semana mal acabou e já estamos exaustos. Gatim, de lavar chão e louça. Eu, de cozinhar e lavar roupa – na verdade, estender no varal, porque lavar é fácil quando se tem um sistema como o meu (separar por cor, jogar dentro da máquina, escolher o programa, ligar e sair de perto). Além do mais, é claaaro que nesta exata semana, a pia da cozinha começou a vazar, o feijão congelado tá acabando (e eu morro de medo de panela de pressão), uma caixinha de leite longa vida surtou, fermentou, inflou e vazou um líquido viscoso e abundante que impregnou as outras caixas, o armariozinho de madeira onde ela estava, as latinhas de refrigerante da prateleira abaixo, enfim, toda a área de serviço, a cozinha e parte da sala e do corredor com um futum indescritível (mas que se eu fosse tentar descrever, diria que parecia que um bacalhau com cê-cê, sofrendo de chulé terminal e hálito de tigre louco havia morrido e apodrecido em cima de uma montanha de queijo Limburger com cebola e restos de cerveja choca deixados no sol por uma semana dentro de uma sacola feita de bucho de bode . E isso é só uma pobre tentativa, a realidade foi muito pior.). Por outro lado, desde que a moça saiu de férias, nossos almoços, feitos por mim, andam bem mais gostosos e bem temperados, o vaso do meu banheiro parou de entupir – talvez porque os quilos de cabelos que caem da minha cabeça todo dia agora vão parar no lixo, e não porcelana abaixo – e meus chocolates diet (que custam o triplo dos normais), os únicos que eu posso comer, pararam de sumir por milagre. Mas o mais triste foi que eu descobri, por acaso, por sorte (?) minha e descuido dela, que não eram só chocolates e sabonetes perfumados e bonitinhos da Natura que vinham sumindo, não. Na pressa de sair, ela esqueceu num potinho na área de serviço todos os seus balangandãs – brincos, colar, pulseiras, relógio e um anel de prata, diferente, lindo, caro pros padrões dela, e... inconfundível e irrefutavelmente meu. Que eu não usava há algum tempo, mas sabia muito bem onde estava – ou melhor, onde deveria estar, e não era ali. Quer dizer, a moça em quem confiamos nossa casa e tudo o que temos por mais de um ano, a quem adiantamos todos os vales que ela pediu, demos todas as folgas que ela quis e liberamos de todos os sábados; cujas faltas, prejuízos, coisas quebradas e voracidades específicas relevamos nos rouba, e provavelmente não começou agora. Portanto, além da chateação e do trabalho, ainda teremos um gasto extra : quando ela voltar, vamos ter que torrar uma boa (pra nós, pobrecitos) grana de acerto, inclusive com a multa de dispensa do aviso prévio, porque na minha casa ela não fica mais um dia. E mais a despesa pra trocar as fechaduras, porque quando nós perdemos a confiança, perdemos pra valer. Mas o pior mesmo é imaginar como fazer pra substituí-la. Parece fácil, não somos assim tão exigentes : só o que queremos mesmo é alguém que não seja porca, que não nos roube e que goste de gatas siamesas malucas e levemente histéricas. Mas não tá fácil. Além de não ter muita gente a fim de trabalhar com serviço doméstico – e juro que eu entendo isso de todo coração, esse trabalho é um porre mesmo - , nós também estamos meio ariscos, com a fé no "cerumano" abalada, e vai ser difícil voltarmos a deixar nossa casa inteiramente entregue a alguém de novo sem sofrer. Mas graças a nossas bravas e virginianas mães, sondagens estão sendo feitas, pauzinhos estão sendo mexidos, e se Zeus (e principalmente Hera) quiser, em breve teremos alguém pra manter a casa apresentável e a Nina um pouco menos carente. Meu voto é pela moça crente que atualmente trabalha na casa de um travesti e anda pensando em sair. Se não for por mais nada, porque eu sei que - depois do que já deve ter visto por lá - ela provavelmente não vai ficar escandalizada com as heresias do gatim, nem tentada por minhas pobres bijuterias de tamanho discreto, nem encantada com meus sapatos 37, quase todos pretos, sem brocal nem plataforma.
Tomara que dê certo.

cyn city

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