programa de culinária e o fim do mundo
o mundo anda invadido pela mania de cozinhar, como se fosse uma atividade misteriosa, cheia de segredos e truques - ir pra cozinha virou hype! descascar, picar, refogar, assar e fritar pra alimentar a família agora é moda.
cursos de gastronomia pipocam pelo país (pelo mundo, talvez) a preço de ouro e são lotados por patricinhas e mauricinhos que querem ser chefs. a atividade mais básica e rudimentar realizada por qualquer ser da nossa espécie virou, vejam vocês, um luxo.
(para informação geral, não acredito em culinária como forma de arte. não acredito também em neutrinos)
não sei se rio ou choro enquanto acompanho os desdobramentos do culto à culinária: milhares de pessoas investindo rios de dinheiro em cursos de gastronomia para se tornarem chefs (tem trabalho pra tanto chef?) ou em cozinhas milabolantemente complexas e cheias de utensílios lindos que elas jamais usarão. centenas de livros de culinária são publicados todo mês, ensinando receitas que levam coisas como asa de morcego albino da tailândia. homens constroem cozinhas gourmet (ahn?) separadas das cozinhas das esposas, porque afinal o que eles fazem é arte, o que elas fazem é só... comida.
mas a pior parte dessa alucinação coletiva são os programas de culinária na TV: vocês já viram um programa do jamie oliver que se passa num palco de teatro e é filmado? pode ser só preconceito meu, agradeço esclarecimentos, mas qual é o sentido de ir a um teatro e ver um cara fazendo comida em cima de um palco? não dá pra ver a panela e muito menos a comida e é impossível acompanhar a execução, porque ele sempre parece que cheirou 1 quilo de pó...
sem querer vi essa semana (na GNT, é claro) o exemplo mais patético dessa onda de programas de receita: um negão tipo rapper cujo vocabulário é pontuado por "YOs" e que tem um caso sério de TOC. o cara lava a mão 234 vezes durante o programa (que dura 30min) e repete incessantemente que você deve lavar as mãos. ele é americano, claro.
o episódio em questão foi sobre preparação de frango, e a idéia é ser simples e "sem frescura" (muito embora ele use echalotas). o cara começa o programa pegando um frango limpo inteiro (sem cabeça, pés ou entranhas), colocando na tábua e dizendo: "você provavelmente nunca viu um frango inteiro, então dê uma boa olhada que eu vou ensinar a cortar o frango em pedaços!".
meu mundo caiu. como assim, nunca viu um frango inteiro?
ele ensinou 3 formas de preparar o frango, mas prestei pouca atenção, tamanho era meu choque com a revelação: há pessoas que nunca viram um frango inteiro nem no supermercado. já me espanta ter gente por aí que nunca viu uma vaca viva ou um frango ciscando, nunca comeu fruta do pé e não sabe diferenciar escarola de alface. mas nunca ter visto o bicho morto e limpo no mercado? surtei.
(não vou contar a receita, mas a versão light do frango era filé empanado com molho de creme de leite e manteiga, com macarrão. juro por tudo que é mais sagrado)
complementando o quadro mundial de fixação por comida, intercalandos com os blocos de programas de receitas temos os programas de desordem alimentar - obesos mórbidos encontram anoréxicos e malucos que comem somente queijo e nada mais. a comida e o comer se transformaram em circo, meu deus do céu!
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depois de passado o susto, pensei melhor e acho que a maior parte do mundo não deve estar tão mal assim. até por necessidade, milhões de pessoas dão à cozinha e ao cozinhar o peso e o valor adequado. a realidade não é estados unidos, londres, jardins e leblon, graças a deus. maldita TV, que transforma modinhas de minorias em verdade.
não vou deixar de ver TV, que isso é muito anos 70 pra minha cabeça, mas definitivamente vou evitar certos programas quando encarar a telinha. muito mais discovery e menos GNT. credo
zel
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