7.1.09

Fragilidade

Confesso que a fragilidade masculina me incomoda. Incomoda profundamente. No meu pequeno cérebro de caroço de uva, ainda persiste o Ideal do homem forte, inabalável e provedor. Sonho com o macho-alfa, forte e seguro como jamais nenhum ser humanos poderá ser. Um desfavor.

Por isso, me irrito bastante quando vejo uma demonstração de fragilidade masculina. O que aos olhos de algumas mulheres pode parecer “fofo” ou “sensível”, aos meus, soa como uma coisa negativa. Não é justo, eu sei, mas não consigo evitar. Será que sou apenas eu ou existem mais mulheres por aí que se aborrecem com essas demonstrações de fragilidade?

Pensando racionalmente, sei que é extremamente babaca querer que o outro não tenha nenhuma fragilidade, por isso, oficialmente, faço de conta que aceito numa boa, mas por dentro tem aquela voz que fica “afeeee que viadeeeenho!”. O curioso é que aparentemente eu atraio os tipos mais sensíveis. Maldita complementariedade, sempre ela.

Cinco demonstrações de fragilidade masculinas que me aborrecem profundamente:

CHORAR EM FILME – Acho feio homem chorando em filme. Não se trata do velho “homem não chora”. É uma versão machista light: “homem só chora por coisa importante”. Pode chorar se morrer alguém, se brigar comigo (sim, eu me acho importante) ou se sentir muita dor. Eu sei que é babaca se importar com isso, mas o “pacote” que vem junto com um homem que chora vendo filme geralmente é incompatível comigo, então, quando vejo isso acontecer, acende uma luz vermelha de alerta.

Caso concreto: Estava eu com um namorado abraçada na cama vendo o desenho “O Rei Leão”, da Disney. Chega a maldita cena em que o pai do Simba morre. Percebo que o Zé Ruela está DURO (sem trocadilhos, infelizmente). Olho para o Zé Ruela e vejo seus olhos cheios de água. Ele percebe que eu vi e abre bem os olhos para evitar que a primeira lágrima caia. Eu pergunto “Você está chorando?”. Ele, sem conseguir abrir a boca, faz que não com a cabeça e esbugalha ainda mais os olhos. Cai a primeira lágrima. Ele, em vez de ficar calado, estufa o peito e diz “Eu não estou chorando!”. Fiquei puta e respondi “Agora você mija pelo olho?”. Longo silêncio chato.

FOBIAS DE ANIMAIS – Claro que homem pode ter medos e fobias, mas a forma como ele as demonstra é que me broxam. Faniquito, chilique, ataque histérico, gritaria e similares me irritam. Até para ter medo tem que saber ser macho.

Caso concreto: Tive um namorado que tinha pavor de barata. Curiosamente eu não tenho o menor medo de barata. Quando aparecia uma barata ele saia correndo, literalmente. Às vezes gritava e corria. E eu matava a barata. O fundo do poço foi quando apareceu uma baby baratinha no chão da nossa cozinha e Madame subiu em um banquinho e ficou gritando para que eu mate. Sim, amor acaba. Uma vez ele me viu jogar fora o cadáver de uma baratinha pela antena e ficou o resto do dia sem encostar em mim: isso, para mim, é atitude de mulher!

MEDO DE PORRADA – Não sou louca de instigar a violência física, muito menos quando sei que meu querido vai apanhar. Mas quem mora no Rio de Janeiro sabe que existem situações onde ela pode ser necessária. Não gosto de ver namorado meu brigando, acho que tem que ser o último dos recursos, mas peidar para uma briga necessária é vexame. Tem horas em que não dá para fugir.

Caso concreto: Estava eu, vestida com uma roupa muito comportada (calça jeans, blusa sem decote) andando de mãos dadas com meu então namorado em um local movimentado, quando um elemento (bêbado, imagino) se aproxima e fala “Mas você é uma delícia, hein?” no meu ouvido. Chato. Muito chato. Mas até aí, não precisava porrada. Meu então namorado diz para o sujeito “Não está vendo que ela está comigo?” e o sujeito diz para mim “Larga esse BOSTINHA e vem dançar comigo, Gata”. Chato. Muito Chato. Mas até aí não precisava porrada. Fui saindo de perto e puxando meu namorado e quando estávamos indo embora, o sujeito passou a mão na minha bunda e disse “Gostosa!”. Chato. Muito chato. Já dava para dar uns petelecos nele. Mas o sujeito era muito forte, então, até dava para entender a inércia contemplativa do meu então namorado, que apenas virou e disse “Dá um tempo!” para o sujeito. Foi quando o sujeito respondeu um “Cala a boca seu merda!” + deu um pescotapa na nuca dele + cuspiu na cara dele. Nesse ponto eu acho que porrada seria uma solução saudável, somando o conjunto de desfavores ocorridos. Mas o Zé Ruela afinou, olhou para baixo e saiu praticamente correndo do lugar. Todo cuspido.

MEDINHO – Aqui se aplica o mesmo que eu disse a respeito da fobia de animais. Pode ter, mas o que me mata é a forma como isso é demonstrado. Medo de avião, injeção, ET, fantasmas, raios, altura, escuro, etc.? Super normal. Gritar histericamente? Feio. Segura o rojão, se controla e sofra com dignidade. É um ônus por ser homem, ter que segurar a onda na hora de dar piti. Sorriam, vocês mijam de pé e não tem que parir nem se depilar.

Caso concreto: Namorado com medo de sangue. Eu me machuco e preciso ser levada ao hospital. Grito por socorro e ele aparece, quando vê o sangue, sai correndo. Vou atrás dizendo que realmente estou precisando de ajuda. Ele se tranca no banheiro de tanto medo de ver sangue e fica gritando lá de dentro que ELE está passando mal, que ELE vai desmaiar. Vou ao hospital de táxi, sozinha.

VÍCIOS – Odeio pessoas escravas de vícios. Vícios todos nós podemos ter, mas ser escravos deles é uma questão de entrega. Não respeito uma pessoa cuja fragilidade é mais forte do que ela mesma e determina suas escolhas de vida, contra a sua vontade. Escravos de vícios que permitem que suas vidas sejam limitadas por esse vício me irritam.

Caso concreto: Zé Ruela prometendo que vai parar de fumar. Diante da minha cara de dúvida, Zé Ruela, em um surto de coragem, joga fora todos os cigarros da casa e diz que parou. Comprei adesivos de nicotina para ele, mas ele disse que não precisava disso, que tinha “força de vontade”, em um surto de arrogância. A convicção durou poucas horas. Naquela noite Zé Ruela andava de um lado para o outro sem parar, feito leão de zoológico. Levantei no meio da noite para beber um copo de água e vi uma cena inesquecível: Zé Ruela cheio de adesivos de nicotina pelo corpo, (aqueles que ele disse que não precisava) LAMBENDO o último que tinha sobrado (porque não tinha mais área livre para colar).

sally surtada

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