28.11.02

Um antropólogo diria que os moradores desse apartamento se dividem em dois grupos distintos: o dos que sabem perfeitamente onde fazer xixi e o dos que têm uma certa dificuldade nesse quesito. O gato e eu pertencemos ao primeiro grupo. No segundo estão meu namorado e o poodle, cujo nome agora é Poodle. Depois do ataque do bastardo aos meus sapatos, meu namorado assumiu a “paternidade” do bicho e ganhou um aliado. O cachorro passou a me ignorar e vive seguindo-o pelo apartamento. Para irritá-lo comecei a chamar aquela bolota-de-pêlo-saltitante de Poodle, já que ele odeia essa raça. A provocação não funcionou. O nome pegou e agora eu não só limpo os respingos de xixi no vaso sanitário (meu namorado e sua péssima pontaria) como também lavo o chão do banheiro diariamente. Não é que o poodle aprendeu a fazer xixi no banheiro para imitar seu mestre?! Até que a cena do cãozinho fazendo o vaso de poste seria fofa se não resultasse naquela poça de xixi no chão do banheiro (pelo menos os passeios de final de tarde resolvem o problema do cocô).

Tudo isso seria de grande relevância se não fosse minha última experiência desastrosa no cabelereiro. Aceitei a dica de um salão “tu-do-de-bom” da Marininha para mudar o visual. Nunca tive medo de cabelereiro, contrariando a regra feminina. Homens têm medo de dentistas e de injeções (sem mencionar o problema da calvície, o que seria sacanagem da minha parte...) Mulheres têm medo de cabelereiros e depiladoras. Marquei hora no final da tarde de sábado, pouco antes da festa anual do Jair. Todos os anos ele reúne os amigos “íntimos”, como ele diz, para uma festa à fantasia. Algo em torno de quinhentos a seiscentos convidados. Dessa vez aluguei um traje completo de Branca de Neve, com direito a saia longa e capa. Tudo para evitar o vexame do ano passado, quando ignorei os conselhos do meu namorado de que Coelhinha da Playboy não era uma boa escolha e passei a noite ouvindo comentários a respeito do meu belo rabinho. Isso sem falar no frio.

Quando entrei no salão percebi o que a Marininha quis dizer com “tu-do-de-bom”. O cabelereiro era um moreno de olhos verdes que de tão charmoso fazia George Clooney parecer sem-graça. “O que você está pensando em fazer?”. “O que você achar melhor...”. Não dava para raciocinar e olhar para ele ao mesmo tempo. “Vamos escurecer alguns tons e manter o corte?” “Ok...”. Várias edições de Caras depois o resultado não poderia ter sido pior. Beterraba. Eu fiquei com a cabeça parecendo uma beterraba cabeluda. Sem tempo para mudar, fui para casa emburrada e disposta a raspar careca se não conseguisse um salão aberto na segunda-feira bem cedo para consertar aquele atentato terrorista.

Abri a porta e meu namorado já estava pronto, me esperando. “Que aconteceu com seu cabelo??”. Arrrgh! Vesti a fantasia e ele entrou no quarto, segurando a risada. “Vai de Roxa de Neve?”. Definitivamente não. “Já sei! Bota um vestido vinho e vai de Suco de Beterraba!”. Já estava disposta a passar as próximas 36 horas trancada no quarto quando ele disse que daria um jeito. Apareceu com um macacão azul claro, pantufas brancas e uma peruca de pelúcia branca que ele tinha guardado da primeira festa. E lá fomos nós para a festa do Jair. Um bombeiro e um cotonete gigante.

refrigerado no Balde de Gelo

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