17.12.02

As coisas acontecem de formas estranhas em Paris.
Estava hoje no metro vindo para ca, pensando sobre o que escrever. O vagao estava cheio, no limite do aceitavel. Na estacao George V, na Champs Elisees, a porta se abre e dois artistas entram para tocar e tentar ganhar alguns euros com isso. Um violinista e um contra-baixista começaram a tocar. Durante tres estacoes os musicos tocaram musicas italianas e, com toda a educacao pediram trocados para os passageiros. Quando estenderam o saco de doacoes para uma garota negra sentada ao meu lado ela se levantou e pensei que fosse haver briga. Os tres, a garota e os dois musicos pareciam estar discutindo em italiano. Pelo que pude entender ela reclamava que estavam tocando a musica de forma muito lenta e tentava explicar batendo palmas para mostrar o ritmo correto. Ela queria que tocassem novamente, mas dessa vez da maneira certa. Eles toparam e comecaram a tocar sob o ritmo das palmas da negra. Em certo momento a voz da garota se juntou aos instrumentos. O vagao, antes com o som de dezenas de vozes calou e permaneceu quieto enquanto a garota cantava. Mesmo os instrumentistas se assustaram mas nao perderam o ritmo.
Era uma musica linda, uma especie de aria. A voz fluia, os timbres mesclados dos instrumentos levavam a dor para longe. A voz vinha ora forte como uma tempestade, ora suave quanto ondas em mar calmo. Mesmo a crianca ficou quieta, ouvindo. As pessoas, por um instante sonhavam. E, quando o som por fim morreu, houve silencio, ninguem se atrevia a acabar com o momento. Todos do vagao, mesmo os mais afastados, olhavam o trio. O unico som era o barulho de trem, metal rangendo e se contorcendo. O metro parou e as portas se abriram, a garota se preparou para descer. Antes que ela saisse uma salva de palmas saudou sua apresentacao inesperada.

escorrido do Celtic Blood

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