Longos cabelos pretos, com mechas ruivas e loiras. Era uma loira ruiva morena. Se essa não é a mulher perfeita, perdoem-me, mas eu não sei como ela é.
– E aí, vai responder ou não?
– Espera. Calma. Calma. Essa pizza é pra quem mesmo?
– Pra Lúcia.
– Olha... deixa essa pizza aqui, e eu entrego pra ela.
– Mas... o procedimento não é esse. Ela fez o pedido, ela tem que receber.
– Tudo bem. Ela foi ao banheiro, ou ao banco, não sei. Sei que ela saiu e me pediu para receber a pizza por ela.
– Mas ela acabou de me atender ao telefone...
– Eu sei, eu sei. Mas... vem cá, chega mais perto e eu vou te contar o que acontece. Não é bom falar essas coisas alto, outras pessoas podem ouvir e a Lúcia se ofender. Sabe o que é? A Lúcia pediu a pizza, mas ela está sem dinheiro, entende? Então pediu para que eu pagasse a pizza para ela, e depois ela me paga.
Ela ficou meio ressabiada, mas eu minto bem, e não lhe dei muito tempo pra pensar:
– Você acha que eu iria fazer o quê? Roubar a pizza de uma funcionária? Olha, tá aqui o meu cartão. Se ela reclamar que não recebeu a pizza, você diz que deixou comigo. Tá certo? Quanto é?
– Dezesseis e noventa e... nossa.
– O que foi?
– Esse cartão que você me entregou! - Bingo! Mulheres são tão previsíveis... principalmente as perfeitas. Aliás, é a previsibilidade que as torna perfeitas.
– O que tem ele?
– É do clube de motoqueiros Road Toasters. Sempre quis participar de um passeio deles!
– Então está convidada!
– Sério?
– Seríissimo.
Não me lembro de já ter visto sorriso mais lindo. Ok, já disse isso antes, mas dessa vez é a última.
Certo, já disse isso antes, mas dessa vez eu tenho certeza. Se houver sorriso mais perfeito que aquele, não é nesse planeta.
– Qual o seu nome?
– Alessandra.
– Pois bem, Alessandra, me dá seu telefone, pra eu poder te informar quando for acontecer um encontro do pessoal.
– Claro. Toma. - (YESSSS!).
– Ok, eu te ligo assim que souber de alguma coisa.
– Certo, gatão. Vou ficar esperando. - Aí pegou o cheque, deu outro sorriso, ainda mais lindo que o anterior, piscou foi embora.
Piscou para mim! Sorriu para mim! Me chamou de gatão!
Entreguei a pizza para a Lúcia, que não entendeu nada quando levou um tremendo beijo no rosto e o mais sincero "Obrigado!" que já ouviu na vida e voltei para minha mesa. Acho que fiquei uns 15 minutos pensando naquela maravilha que tinha acabado de deixar a minha sala, quando me lembrei.
Eu tinha vendido minha moto. Há uns 6 meses.
Eu não participava de um passeio com os caras há pelo menos um ano e meio.
Por que eu sempre faço essas coisas, meu deus? Por quê?
citado do Sobre nada... e talvez alguma coisa.
2.12.02
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