2.12.02

 Longos cabelos pretos, com mechas ruivas e loiras. Era uma loira ruiva morena. Se essa não é a mulher perfeita, perdoem-me, mas eu não sei como ela é.
   – E aí, vai responder ou não?
   – Espera. Calma. Calma. Essa pizza é pra quem mesmo?
   – Pra Lúcia.
   – Olha... deixa essa pizza aqui, e eu entrego pra ela.
   – Mas... o procedimento não é esse. Ela fez o pedido, ela tem que receber.
   – Tudo bem. Ela foi ao banheiro, ou ao banco, não sei. Sei que ela saiu e me pediu para receber a pizza por ela.
   – Mas ela acabou de me atender ao telefone...
   – Eu sei, eu sei. Mas... vem cá, chega mais perto e eu vou te contar o que acontece. Não é bom falar essas coisas alto, outras pessoas podem ouvir e a Lúcia se ofender. Sabe o que é? A Lúcia pediu a pizza, mas ela está sem dinheiro, entende? Então pediu para que eu pagasse a pizza para ela, e depois ela me paga.
   Ela ficou meio ressabiada, mas eu minto bem, e não lhe dei muito tempo pra pensar:
   – Você acha que eu iria fazer o quê? Roubar a pizza de uma funcionária? Olha, tá aqui o meu cartão. Se ela reclamar que não recebeu a pizza, você diz que deixou comigo. Tá certo? Quanto é?
   – Dezesseis e noventa e... nossa.
   – O que foi?
   – Esse cartão que você me entregou! - Bingo! Mulheres são tão previsíveis... principalmente as perfeitas. Aliás, é a previsibilidade que as torna perfeitas.
   – O que tem ele?
   – É do clube de motoqueiros Road Toasters. Sempre quis participar de um passeio deles!
   – Então está convidada!
   – Sério?
   – Seríissimo.
   Não me lembro de já ter visto sorriso mais lindo. Ok, já disse isso antes, mas dessa vez é a última.
   Certo, já disse isso antes, mas dessa vez eu tenho certeza. Se houver sorriso mais perfeito que aquele, não é nesse planeta.
   – Qual o seu nome?
   – Alessandra.
   – Pois bem, Alessandra, me dá seu telefone, pra eu poder te informar quando for acontecer um encontro do pessoal.
   – Claro. Toma. - (YESSSS!).
   – Ok, eu te ligo assim que souber de alguma coisa.
   – Certo, gatão. Vou ficar esperando. - Aí pegou o cheque, deu outro sorriso, ainda mais lindo que o anterior, piscou foi embora.
   Piscou para mim! Sorriu para mim! Me chamou de gatão!
   Entreguei a pizza para a Lúcia, que não entendeu nada quando levou um tremendo beijo no rosto e o mais sincero "Obrigado!" que já ouviu na vida e voltei para minha mesa. Acho que fiquei uns 15 minutos pensando naquela maravilha que tinha acabado de deixar a minha sala, quando me lembrei.
   Eu tinha vendido minha moto. Há uns 6 meses.
   Eu não participava de um passeio com os caras há pelo menos um ano e meio.
   Por que eu sempre faço essas coisas, meu deus? Por quê?

citado do Sobre nada... e talvez alguma coisa.

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