17.12.02

"Vejo fulana a festejar na revista
Vejo beltrana a bordejar no pedaço
Divinais garotas
Belas donzelas no salão de beleza
Altas gazelas nos jardins do palácio
Eu sou mais as putas"
(Cambaio - Edu Lobo e Chico Buarque)


Segunda-feira, que beleza! Ah, não acha? Pois eu sim: é meu dia de folga. Domingo também, mas sempre tem algum bico para fazer aos domingos, e não estou em condições de respeitar dias santos. Mas a segunda-feira é totalmente dedicada ao ócio. É meio complicado, porque meus poucos amigos não se animam a fazer nada nesse dia da semana, então geralmente passo o dia todo em casa mesmo, ou andando pelo bairro e jogando conversa fora com os velhinhos (parece que todo mundo que passa dos 75 anos vem morar por aqui, é impressionante).
Pois então, domingos e segundas. E o que eu faço nos outros dias? De quinta a sábado toco naquele bar do qual já falei bastante. Às terças e quartas toco em outro lugar. Um lugar que... Como direi? Bom. Um rendez vous. É, isso aí, um lupanar. Um puteiro.
Não riam! Ta bom, vai. Riam. É meio esquisito mesmo. Músico de puteiro era tudo o que meus pais não queriam que eu fosse. Mas o mundo gira e gira, e quando a gente se dá conta já ficou tonto e está tocando guitarra num puteirinho dos mais fuleiros.
Que posso dizer em minha defesa? Primeiro o mais forte: Tom Jobim começou desse jeito, sabiam? Tocava em qualquer lugar, inclusive puteiros, para garantir o pagamento do aluguel. Mas o Tom sabia o que queria. Eu estou mais para aquele parceiro dele, o Newton Mendonça, e provavelmente morrerei cedo e anônimo, assim como ele. Acho que nem isso, porque ambos tinham em comum o talento extraordinário. Não tenho nada de extraordinário, a não ser, talvez, a absoluta falta de vergonha na cara.
Fora essa desculpinha de Tom Jobim -- Que ninguém engole mesmo -- no bordéu os recursos são bem melhores. Ou menos piores: toco minha guitarra ligada a uma mesa de dezesseis canais, o microfone é de qualidade razoável, tenho um baterista e um baixista que me acompanham (“me perseguem” seria mais apropriado) e, puxa!, até uma caixa de retorno. Não que o retorno seja uma boa coisa, é mais uma vingança do público: “Ouve só o que a gente tem que agüentar”.
E tem mais uma vantagem: o público do puteiro é bem mais caloroso. Sou aplaudido sempre. As meninas pedem músicas, e adoram quando eu canto Geni e o Zepelim, do Chico Buarque.
Ah, as putas... Você, caro leitor, nunca pagou para fazer sexo? A não ser que você seja virgem, duvido muito. Toda mulher cobra por sexo, seja em dinheiro, seja em presentes, seja em poder. Sim, meu caro: Poder sobre a sua vida. A única diferença entre as mulheres que você deve chamar de “decentes” ou qualquer outro adjetivo idiota desses, e as putas, é que estas chegaram a um tal patamar de pureza na vida que estipulam o preço antes de qualquer outra coisa. Jogo aberto, é disso que estou falando. E são grandes amigas, engraçadas, seguras de si, nada daquele nhem-nhem-nhém.
Pareço um tanto desiludido com o sexo oposto? É, acho que sou mesmo. E talvez eu conte a vocês a razão disso um dia. Ah, já contei até das minhas hemorróidas, não tenho mais pudores. Estejam por aqui amanhã, vamos ver se conseguimos ter uma conversa mais pessoal.

lambada do Chicote Verbal

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