Depois dessa pedi ao Jorge que enrolasse um baseado mostruoso,misturando ao cânhamo restos do entulho do muro de Berlim capturadosna nossa última parada. Jorge escolheu um pedaço de pedra com ainscrição "Solange esteve aqui". Junto, dechavou um casal de prestobarba enferrujado doado por Anselmo, enrolando tudo numa página dos " Fragmentos de Sabonete" do Jorge Mautner. Escolheu a dedo o capítulo que trazia Jimmy Hendrix a caminho de Mozart, usando a prerrogativa heracliteana que os divergentes consigo mesmo concordam. Jorjão comprou a idéia, queria que fosse um baseado-kaos, que se fumado lembraríamos do tempo em que ficamos rodando em círculo - ou círculos, a gente ainda não descobriu isso - sobre os céus de Moçambique. Na hora de fechar deu a idéia de trocarmos a saliva pela mostarda, para que a coisa tivesse algum sabor. O grupo aceitou, acendendo a bagaça no fogo que saía de um dos bujões de gás do balão.
A coisa rodou na carioca. Anselmo teve o azar de tragar parte do plástico azul do seu antigo barbeador, mas o resto foi bem. A ponta enfiamos no congelador.
Celeste deu bandeira que aquilo tinha começado a pegar. Entrou com um assunto totalmente merda. Observando o azar de Anselmo questionou as diferenças do acaso. Aquela velha estória de por que algumas coisas acontecem para uns e para outros não? Ignoramos a menina e fomos à varanda da cestinha respirar o ar de New Jersey.
- Uia!, gritou Jorge.
Anselmo - Olha o quê?
Jorge - Aquela luzinha.
Anselmo - Quê luzinha?
Jorge - Aquela.
Anselmo - Não tô vendo luzinha nenhuma.
Selma - Eu também não.
Jorge - Não?
Selma e Anselmo - Nãos.
Jorge - Ali. Bem ali.
Selma - Ah, verdinha?
Anselmo - Ah, é.
Jorge - Não, é azulzinha.
Selma - Ah, a azul.
Anselmo - Qual?
Selma - A azul.
Anselmo - Ah.
Jorge - Muito louca, né?
Selma - Muito louca.
Anselmo - Mais ou menos.
Selma - É, não é tão louca assim.
Jorge - É...
Após um breve silêncio.
Eu - Porra, Jorge, você tá em pé?
quicando no Ora Bolas
14.1.03
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