II.
Urino analmente há cinco dias. Um líquido amarelo bóia na água da privada depois de cada sessão de urros e gemidos e a única coisa a me preocupar são os pontos azuis que vejo enquanto me desfaço e os peixes dourados nadando pra cá e pra lá na bosta biliosa. Eles saem de mim? Que coisa.
Depois de uma noite pontuada por pesadelos, desisti de afugentar a insônia no momento em que as tilápias principiaram a cantar no pé de cação ao lado da janela de meu trailer. Os peixes-de-briga estavam florindo, o cu em couve-flor.
Em frente ao espelho notei que meus bíceps haviam desaparecido durante a noite e surgiram dois peixes no lugar deles - um pintado no braço direito e um bagre bigodudo no esquerdo. Os bigodes do bagre são enormes e me fazem cócegas. Quá.
Não lamento pelo ocorrido. Com a desaparição do Bressane Voador e com a quase canonização da Garota-Paisagem por seus devotos o Gran Circo Bispo Secreto tem perdido muitos atrativos. Então, graças à minha nova aparência, estrelo um número a cada dia mais concorrido. Meus peixes são exuberantes, com cores e luzinhas, o couro cheio de inscrições indecifráveis, a fala tácita, sempre sedutora. Quá. E como rio todo o tempo por causa dos bigodes do bagre em minhas axilas, a platéia me ama. Hoje sei onde fica o céu do circo, ali em cima do trapézio e logo abaixo dos astros. Posso ver Saturno bem de perto, das alturas em que me encontro. Um dia ainda afano o anel.
quarto sem número do HOTEL HELL
21.1.03
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