Minha irmã mais velha, que eu julgava irremediavelmente extraviada nesse mundo de indizíveis perversões, reaparece desavisadamente em meu santificado lar. "Ólabauti, que saudade!!!", disparou a libertina assim que meteu aquela cara-de-pau achatada pela porta. "Já sei", respondi, "levou um pé na bunda de novo."
É sempre assim. Sempre foi assim. Minha irmã só se lembra de minha normalmente inesquecível existência quando não está com a carroça atrelada num jumento qualquer que ela arranja nos lugares mais nefandos do sertão. E invariavelmente, quando o jumento se rebela e deixa a carroça desguarnecida, ela se materializa na minha frente, e lá vai a patarata songa-monga da All About Eve, seduzida pela promessa de ter as contas quitadas, acompanhar a devassa em busca de outra perna de calça que dê sossego àquela portadora incurável de uma periquita sanhuda.
Não sei de onde ela tira tanto dinheiro. Cheguei a cogitar que ela desse expediente em um inferninho do baixo meretrício de Sobral onde eu, em carnavais passados, fazia hora extra. Mas não. Com o tempo, deixei esses pudores de lado. Se a dissoluta vinha com as burras cheias, melhor aproveitar.
Depois de um café ralo, e com a noite já fechada, saímos. Disse ela ter tido ótimas referências de uma boate de que eu nunca ouvira falar, nas imediações de Ouricuri, chamada "Las Tetas". Achei o nome suspeitíssimo, e só concordei em ir porque minha irmã me garantira que poderíamos jantar na tal casa. O assombroso ronco em minha barriga convenceu-me a seguir em frente.
Já na porta encontramos uns "amigos" de minha irmã, gente positivamente esquisita, um francês fedorento que parecia foragido da Interpol e repetia incansável "La merde est arrivé", um bigodudo com jeito de tísico cocainômano e uma lambisgóia decididamente ninfomaníaca com um decote que revelava toda a ação inexorável que a gravidade terrestre pode ter em uns peitos que há muito passaram do ponto.
E também na porta, após as apresentações, noto que o francês não tirava a botuca de mim. "Pronto. Mais um tarado geriatrófilo", pensei. Mas eu tenho minhas estratégias de evasão. Quando o fedorento se aproximou, cocei as partes baixas e comentei, como quem fala do tempo, "Esses chatos não me deixam em paz. Sabe que até Neocid eu já usei?" Foi o bastante.
retirado do Eu Quero Ser Cora Rónai
17.1.03
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