28.1.03

Não fui eu. Nem conhecia essa menina. Não faço essas coisas, imagina, uma menina tão novinha, tinha o que, nove anos? Oito? Imagina, sou casado, tenho um filho quase da idade dela, pelo amor de deus, seu delegado. Doutor delegado, desculpe. Eu também sou doutor, o senhor sabe. Clínico geral. Dezesseis anos já. Mas não fui eu. Eu nunca faria uma coisa dessas, coitadinha, estuprar a menina e depois afogá-la no rio? Que barbaridade, que crueldade, quem fez isso tem que pagar, tem que sofrer muito na cadeia. Virar mulher na cela. Ou coisa pior. É, a vida é assim. Coitada da menina, tão novinha, tão bonitinha, morrer assim tão machucadinha, apertadinha, sufocada. Estrangulada e afogada, tadinha. Tão lindinha. Como eu sei que ela foi estrangulada antes? O senhor mesmo disse, não disse? Não?

das páginas sebosas do Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa Monstro (para Dalton Trevisan)

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