28.1.03

Nunca dei muita bola para catadores de latinha, sempre deixei eles um pouco de lado, pretendendo evitar pensar que existem, como um câncer da sociedade. Entretando, devo confessar que eles são um tanto quanto intimidantes. Hoje, estava sentado numa barraquinha, quando vi um deles revirando o lixo. Porém, vi que ele somente o fazia mecanicamente e não estava prestando a menor atenção nisto, visto que me olhava de soslaio. Achei engraçado ver aquele homem me encarando. Até ajeitei meus óculos; poderiam estar tortos. Desviei meu pensamento dele e voltei a beber minha coca-cola. Dois canudos. Um azul. Outro vermelho. Gosto de diversificar, misturar as cores. Assim, ninguém me acusa de racismo ou preconceito colôr. Senti uma leve brisa em minhas costas e sutilmente voltei meu pescoço para a esquerda, mas já era tarde demais. O catador de latinha havia saltado sobre mim, pego a minha lata mezzo cheia, dado uma cambalhota por cima da mesa. Chegando do outro lado, pego seu saco repleto destes pequenos recipientes de alumínio e saiu em desparada. Fitei-o atento, boquiaberto, sem reação. Boquiaberto, diria, é apenas um modo de expressão, uma vez que a minha boca estava fechada e dela pendiam dois canudos. Um vermelho. Outro azul.

Free Bee

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