10.1.03

Saída de emergência
Um viva para Alê Faljone, editor da revista Simples - por Ronaldo Bressane

Pensei várias vezes se era realmente necessário escrever isto. O silêncio da imprensa pesava sobre meu juízo: o tema é tabu. Pensei que poderia ser visto como oportunista. Ou intrometido, uma vez que nunca fui assim tão próximo dele. Mas seu gesto não me saía, não me sai, da cabeça. E ninguém falava desse gesto. Foi por essa única razão que resolvi escrever em homenagem a Alê Faljone, editor da revista Simples, morto em dezembro, em São Paulo.

Alê matou-se.

Parece simples dizer, mas, para além desse trocadilho inadequado, não é nada fácil entender. Se é que há possibilidade de entendimento. Pois se há um ato inexplicável para o homem, este é o suicídio.

Alê enforcou-se, numa árvore, em sua casa. Foi tudo muito bem pensado. A última Simples trazia um espelho em sua capa, e, dentro, uma foto de Alê com o rosto oculto – justamente por trás de uma árvore. Dois dias antes, ele havia comunicado faltar na redação da revista. Havia duas semanas, tinha terminado, na boa, um relacionamento com a namorada. A última edição da Simples fechou no azul, cheia de anúncios. Sua casa estava em ordem. Em seu computador, no histórico do seu navegador foram encontrados links para sites que ensinavam o laço perfeito para o gesto extremo – a exata antítese do cotidiano e tributável nó na gravata.

O último bilhete

"Quem não morre não vê Deus. Me desculpem os que se acham fortes, que, sei, jamais compreenderão. Me desculpem os que se acham fracos, por fazer o que talvez desejassem. De qualquer forma, é hora de superar os dogmas em torno do suicídio. É direito fundamental do Homem. Ninguém pode julgar ninguém, porque cada um nasce com a sua própria proporção entre angústia e capacidade de superá-la. Tentei, tentei muito, e acho que morrer é a próxima tentativa. Batalhador sempre fui. Não será a Igreja dos pedófilos que me fará sentir culpado. Só mesmo a dor dos que respeitam a minha alma, mas estes hão de aceitar minha saída: basta imaginarem que sinto essa emoção que sentem agora desde que me lembro gente. Tristeza. A mais funda tristeza do mundo."

Alexandre Moreira César Faljone

anotado no FRAUDE

5 comentários:

adrianomendonca disse...

Fui o melhor amigo de infância do Faljone perdi o contato com ele aos 15 anos e quando me surgiu pela frente o milagre da Internet foi a minha primeira busca.
Triste noticia então.

Gostaria de saber dele pelas pessoas que conviveram nos ultimos anos.

Abraço


Adriano

Ratapulgo disse...

Adriano, talvez o Ronaldo Bressane. autor da matéria, possa ter mais informações.

Unknown disse...

I just learned of Alexandre's (Ale's) passing. My name is Kent Allison. I was an Rotary Exchange Student that visited Alexandre and the Faljone family in 1984 and 1989. Carlos Faljone has brought me up to speed on some family news. I would love to reconnect with other friends of Alexandre and remember him. I plan on visiting Sao Paulo again in September of 2010.

Please write me and let us reconnect and find each other again.

Your friend,

Kent Allison
kent_allison@hotmail.com




Eu aprendi apenas da passagem de Alexandre (Ale). Meu nome é Kent Allison. Eu era um estudante de troca giratório que visitasse Alexandre e a família de Faljone em 1984 e em 1989. Carlos Faljone trouxe-me até a velocidade em alguma notícia da família. Eu amaria reconectar com outros amigos de Alexandre e recordá-lo.

Eu estou planeando um desengate ao Sao Paulo outra vez em Semptember de 2010.

Escreva-me por favor e deixe-nos reconectar outra vez e encontrar-se.

Daniela Marx disse...

Saudades do meu grande chefe e Ale Faljoni!!!

Anônimo disse...

''Não precisa morrer pra ver Deus...'' - CRIOLO