Tragédia. Pânico. Terror.
Ontem Simone e eu resolvemos ir a um pagode beneficente em um clube aqui em Limoeiro e não, eu não sou uma daquelas pessoas que odeiam pagode. Aliás, eu não odeio nada.
A noite progredia animada até o momento em que eu, que sempre tive um faro apuradíssimo para confusões, percebi uma discussão se desenrolando atrás de mim. Um rapaz andando apressado, quase correndo, em direção à portaria do clube e outros dois rapazes em seu encalço dizendo "ei, amigo! ei, amigo!". Sem resposta, os dois acabaram desistindo e voltaram.
Meu instinto dizia que não tinha acabado ainda. Continuei olhando para a portaria do clube quando percebi que as pessoas que lá se encontravam começaram a correr em minha direção. Sou míope, não entendi direito o que estava acontecendo, mas uma vozinha dentro da minha cabeça gritou: corre! Agarrei a mão da Simone enquanto ainda pude ouvir indinstintamente as palavras "revólver" e "armado" e saí em disparada para trás de um muro baixo e me agachei.
Um amigo do rapaz que saiu nas carreiras adentrou o clube completamente transtornado segurando uma pistola 380.
Três disparos. Entre um tiro e outro comecei a ter pensamentos completamente surreais tais como "essa parede de tijolo furadinho meia-boca não vai deter uma bala e eu vou morrer".
Pela movimentação e gritaria do outro lado do meu bunker de araque percebi que o louco tinha ido embora. Resolvi levantar a cabeça e avaliar o estrago: mesas e cadeiras reviradas e um mar de copos descartáveis no chão, qual moldura macabra, em torno de dois corpos estendidos. Outro ferido no braço. Todos seguranças do clube. A multidão errava, à deriva, sem saber pra onde ir. Mulheres choravam. Minha amiga Fernanda, grávida de 6 meses, chorava. Eu tremia do piolho ao chulé, olhos arregalados, atônita, sem acreditar no que tinha acabado de presenciar.
Ainda estou sem entender bem o que aconteceu.
O que houve com a minha pequena cidade, cidade do interior?
Minha mãe ainda coloca a cadeira na calçada, no final da tarde, cheirosinha e de banho tomado, para ver quem passa e cumprimentar os amigos. Meu pai ainda vai ao mercado de madrugadinha comprar carne, frutas, verduras e raspa de juá pra escovar os dentes nas barraquinhas que vendem ervas.
Cadê minha Limoeiro pequena, simplória, tranquila? Pensei que poderia chegar velhinha e artrítica aos meus oitenta anos sem presenciar esse tipo de cena.
Horror. Horror.
panelada de Arroz-de-leite Versão Esperando Chuva
22.1.03
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