18.2.03

Meu pai começou a fazer jiu-jitsu. Vai na academia 7 vezes por semana, toma anabolizante, compra revistas de Miss Universo e pôs um poster do Gracie enquadrado na sala, no lugar do Renoir da minha mãe. Todo dia ele fica lá em casa, vendo os homens se agarrando no pay-per-view. Não posso mais ver o meu desenho animado em paz, que ele logo chega e diz: saí daí, moleque, que o Ultimate Fighting XVII vai começar.

Pô, meu pai era tão legal comigo, agora ele fica citando Gracie, Ban Ban, Belfort. Esses dias ele disse à mamãe que ela bem que podia tingir o cabelo de loiro, malhar feito uma porca e se parecer com a feiticeira. A mãe só dava risada, dizia que o papai precisava se auto-afirmar, que quando ele era jovem e franzino só apanhava dos moleques no colégio, e agora que ele tinha disponibilidade precisava se achar o fortão.

Até ontem, quando a mãe chamou a gente para jantar, e ele disse com a voz grossa: Cadê o meu açaí? Ela respondeu que esqueceu. Daí ele meteu a mão na cara dela, chamou-a de Olívia Palito e falou que aquela casa era pouco pra um homem tão macho quanto ele. Ele então entrou no quarto, vestiu o vestido rosa da minha mãe, passou batom, pôs meia calça, calçou salto plataforma e bravejou que estava indo malhar na academia, que lá todo mundo entendia ele e que lá tinha açaí sempre que ele quisesse. Agora, minha mãe está no quarto chorando e eu aqui, vendo meu desenho animado em paz. Vai, Digimon, vai!

escafedeu do zazoeira

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