14.2.03

O Eduardo estudou na mesma escola que eu, e quando comecei a circular na noite do Bom Fim, com uns 14 ou 15 anos de idade, ele era uma dos conhecidos que eu encontrava pelos bares. Depois, quando terminamos o segundo grau, passamos alguns anos afastados até 1990, quando abriu o bar Elo Perdido e voltamos a ser parceiros de bebedeiras. Em meados dos anos oitenta costumávamos andar pelos bares da Osvaldo Aranha com uma turma de metaleiros que se reunia durante a tarde na Megaforce (uma loja de discos especializada em metal) e à noite no Bom Fim, entre os quais um dos tipos de drogas mais populares eram as chamadas bolinhas. As meninas costumavam carregá-las nas suas bolsas, pois ainda havia poucas mulheres policiais na brigada militar e os brigadianos costumavam revistar apenas os garotos.
Em uma das primeiras vezes em que nos encontramos, numa noite de sexta feira, um dos rapazes da turma distribuiu alguns comprimidos e eu, que ainda não conhecia droga nenhuma além da cerveja, resolvi experimentar. Orientado pelos mais experientes, tomei uma dose pequena, já que era minha primeira vez. O Eduardo, que já conhecia a droga (não me lembro o nome do medicamento) achou que poderia tomar uma dose maior. Nos sentamos na entrada do Café Bom Fim, na Felipe Camarão, e ficamos tomando cerveja. Passado algum tempo, ele achou que a dosagem tinha sido muito pequena, pois não sentia efeito nenhum, e pediu mais comprimidos.
Não tenho noção de quanto tempo ficamos ali sentados bebendo, nem sei ao certo até que ponto eu realmente senti algum efeito da droga ou me deixei levar pelas minhas próprias expectativas, somadas ao efeito da cerveja. A certa altura resolvemos sair dali e circular pela Osvaldo. Pagamos a conta, saímos do bar, fomos até a beira da calçada e esperamos para atravessar a rua. Foi quando me dei conta que o Eduardo seguia em frente, caminhando devagar, com um ar meio perdido, sem olhar para o carro que se aproximava em alta velocidade. Nem houve tempo para qualquer um de nós fazer nada. Assistimos atônitos enquanto ele era atingido pelo carro que já vinha com o freio acionado, carregado sobre o capô alguns metros e em seguida jogado para o asfalto, quando o carro finalmente parou.
Uma confusão se formou em torno do carro. O motorista, assustado, se ofereceu para levá-lo até o pronto socorro, que ficava a apenas uma quadra dali. Varias pessoas saíam do bar e se juntavam para ajudar, carregando o Eduardo e botando-o dentro do carro. O carro arrancou e, quando finalmente o tumulto se desfez, nos olhamos e percebemos que ninguém da nossa turma havia ido junto. Imediatamente nos dirigimos ao pronto socorro. Lá chegando fomos logo entrando e pedindo informações sobre a vítima de atropelamento que havia entrado pouco antes e uma enfermeira nos explicou que ele havia se levantado e saído andando, dizendo que estava bem. Circulamos pela Osvaldo procurando por ele e concluímos que ele havia ido para casa.
Na segunda feira, quando cheguei na escola, eram várias as versões que corriam entre os alunos. A maioria dizia que ele havia morrido. O que se passou no resto daquela madrugada ninguém ficou sabendo, nem o próprio Eduardo, que só consegue se lembrar do momento em que recobrou a consciência, no sábado, já na metade da manhã, e estava com a roupa rasgada e apenas um pé calçado, diante de uma loja de eletrodomésticos do centro, discutindo com um segurança da loja que não o deixava entrar, insistindo em que precisava entrar porque sua mãe o esperava no interior da loja para comprarem um aparelho de som. Quando se deu conta da situação, voltou para casa, e passou o resto do fim de semana tendo flash backs da "viagem", motivo pelo qual ficou confinado em seu quarto por sua mãe.

junto com cerveja quente e mulheres frias, fly!

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