Pertinência. Sentir que pertenço àquela equipe, que a minha casa é minha, que os meus amigos me solicitam na chegada, que dá para arranjar uma outra empregada se a atual não der certo pois há uma rede de amigos, que se intercomunicam e da qual faço parte. Pertinência é a palavra que sempre foi um tabu para mim e que nesses dois anos de São Paulo parece que vai sendo conquistada. Tudo para mim é sempre difícil. E possível. Esse é o paradoxo. E por isso essa fé inabalável na ocorrência do improvável me acompanha pela vida. Pelo simples fato de que o improvável insiste em acontecer. Pois é, este que te escreve agora é um homem feliz.
Será que devemos confessar nossa felicidade? Há algo mais desinteressante que o amor que dá certo, por exemplo? As estórias que se contam são todas sobre os sofrimentos, as traições, as dificuldades. E quando acabam bem isso se resume ao burocrático "e foram felizes para sempre". Tá bom, há em cada gol um quê de eternidade. Em cada meta alcançada ou superada. Há uma história sendo escrita e inscrita em quem a faz. E cada história guarda uma eternidade assiim como cada segundo guarda seu apocallipse. Esto tergiversando. E quem sabe o que é tergiversar? Sei lá, eu chuto. Às vezes entra. Acho que eu queria dizer que estou digressando. Ou não será isso uma digressão? Ou será que a palavra não é essa. Há sempre tanto a saber. E como diria a famosa escultora: há sempre algo de ausente que me atormenta.
Algumas artes são de por e outras são de tirar. Por as palavras no papel virgem, por exemplo. Ou as linhas. Os sons no silêncio. Por. Há também o entalhar das madeiras, tirando as lascas e formando as imagensss. Nas pedras. Esculpido em carrara, o mármore, quando um filho guarda semelhança melhorada à figura do pai. E o povaréu chama de cuspido e escarrado. Foi assim que se ouviu na cozinha e assim vem se reproduzindo. Mas voltemos à arte de tirar. Michelangelo disse, ao ser indagado como é que ele fazia para esculpir um cavalo gigantesco de uma pedra imensa de mármore. Como era possível? Ele disse: é simples. Eu olho o cavalo e tiro tudo o que não é cavalo da pedra.
do Bloco de Notas do Leo Jaime
21.2.03
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