21.2.03

Apesar de ser paraplégica há quase 30 anos, apenas há pouco mais de um ano que tomei real consciência de minha condição física, com todo seu peso e responsabilidade.

Depois que sai da AACD, nunca mais tive convivência com outros portadores de deficiência, meu mundo foi entre os "normais". Nunca me interessei por assuntos que seriam de interesse de todos os outros portadores de deficiências. Se ia a um lugar com degraus ou escadas e a pessoa ficava meio sem graça, eu dizia, olhando para o Bene "tudo bem , estamos acostumados". Mas, não estava tudo bem. Eu deveria era me indignar e reclamar por melhores acessos, mas nunca o fiz, pois o Bene sempre esteve comigo para me carregar escadas acima. Nunca pensei naqueles que não tinham um Bene, ou mesmo em querer não precisar da ajuda dele.
De certa forma, acho que, inconscientemente, negava minha condição física, não pensando em assuntos específicos a ela. Ficava irritada quando alguém me citava como exemplo de força, superação. Não via nada de exemplo em levar a vida como qualquer outra pessoa.
Meu mundo era pequeno demais e girava em torno de mim e daquelas poucas pessoas que me rodeavam. Não via ou não queria ver que o mundo era muito maior e que eu tinha obrigação de fazer parte dele, preocupando-me com assuntos que pudessem benefiar o maior numero de pessoas.

Foi, então, que, há pouco mais de um ano, através do chat, passei a ter contato com outros portadores de deficiência e suas realidades. Fiquei envergonhada com minha ignorância. Não conhecia meus direitos, benefícios, nem mesmo sabia sobre minha saúde, sobre qual o nível de minha lesão. Depois disso, minha vida mudou completamente. Comecei a me informar, conversar, trocar experiências, enfim, a fazer parte de uma realidade que eu fazia de conta que não existia.
Aguns meses depois, do início dessa revolução em mim, comecei o Maré, que a princípio não tinha um rumo certo, mas aos poucos suas águas foram achando o caminho do Mar. Passei a usar o blog como instrumento contra preconceitos e como forma de mostrar às pessoas coisas sobre a vida de quem tem necessidade especial (usando a minha vida, muitas vezes, como exemplo) que a maioria não sabe pelo simples fato de não ter convívio com ninguém assim.

O retorno tem sido mais que compensador, tenho sentido que minhas palavras não são jogadas à toa, mas que atingem meu objetivo.

Escrevi isso tudo (era pra ser uma pequena introdução), para contar que fui convidada a contribuir como voluntária no site da Rede SACI (cujo conteudo maior é sobre deficiência física), depois de um post que escrevi aqui e que foi citado pela Su, num e-mail que mandou ao repórter saci, cuja matéria foi base para meu post.

A responsabilidade é grande e dá um certo medo, mas aprendi nesse último ano a usar o medo para seguir adiante, e, como não quero mais parar de seguir sempre em frente, aceitei o convite.

Minhas águas, que no início nem sabiam para onde ir, agora atingirão novos mares.

trazido pela Maré

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