25.2.03

PILEQUE

Fico impressionado com a quantidade de gente que não sabe beber. Saber beber, de fato, é uma arte e exige alguma teoria antes de entornar aquela Canjibrina braba - do contrário, está-se sujeito a pagação de mico generalizada, cadeia ou, muito pior, aparecer no Programa do Ratinho para fazer exame de DNA.

Como é meu Dever perante DEUS trazer algum lume às mentes entrevadas, apresento aqui a Fabulosa Escala Levedo de Potencial Destrutivo Etílico, para que vocês não saiam por aí fazendo besteira.

Nível 1: Cerveja. Tem pouco álcool e é fácil de controlar. Claro, sempre tem alguém que é desacostumado a um copo e fica troncho com dois goles de cerva. Juro por São Jorge, se eu fosse assim já estaria milionário. Mas para a média do populacho, é preciso beber bastante para tornar-se um quadrúpede(1), portanto a cerveja é relativamente inofensiva, desde que o sujeito não liquide com uma caixa inteira de Sapporo sozinho.

Nível 2: Vinho. Como as mulheres, existem vinhos que enganam. Chegam de mansinho, são agradáveis, cheiram bem, tem gosto bom mas, meu amigo, no outro dia pode haver surpresas desagradáveis. Creiam, crianças, poucas coisas são tão terríveis na vida do que uma ressaca de vinho. Padre Onofre, meu colega de Santo Ofício, resumiu muito bem a sensação: dá um desgosto de estar vivo. Porém o vinho também é fácil de controlar, e não deixa tanto bafo quanto a cerveja.

Nível 3: Saquê. Bebida traiçoeira, feito um Ronin(2). Posso dizer, sem Jaça na Consciência, que já pude aplicar meu Cajado em muita gente graças a este vinho de arroz. Se for de boa qualidade, é tão suave que não se percebe a quantidade de álcool que contém. Quando você vê, BANZAI! Existem alguns energúmenos que fazem caipirinha com saquê, o que acho uma estupidez sem tamanho - a bebida é saborosa por si só, não precisa de aditivos. 

Nível 4: Cerveja acompanhada de Destilados. É uma espécie de cursinho pré-vestibular antes de partir para coisas mais fortes. O destilado pode ser pinga, vodka, steinhager ou gin. Tem gente que mistura a cerveja e o destilado no mesmo copo, o que julgo ser uma heresia - inclusive encomendarei a Alma destes infiéis à Boca do Lúcifer Maior. O correto, segundo o Concílio de Trento, é dar uma bicada no destilado e depois tomar um gole da breja. Dá para ficar numa boa com apenas duas cervejas e duas doses de vodka, o que, convenhamos, é uma pechincha.

Nível 5: Uísque. Para os que estão adentrando no Maravilhoso Mundo dos Destilados, é aconselhável sempre diluir o uísque em água gelada e botar bastante gelo. Principalmente se o uísque for uma querosene daquelas brabas, tipo Oldêiti, Drury's, Teacher's e outros sucedâneos de Pinho Sol. Já se for uísque dos bons, beba puro pois é pecado estragar com água ou gelo obras de arte da Fina Arte da Destilaria. O uísque exige mais controle por parte do usuário, pois já vi muita gente fazendo revelações estarrecedoras depois de uns tragos, mas não posso dar mais detalhes pois isso é Segredo de Confissão.

Nivel 6: Gin. Diziam os Peçonhentos Tablóides Londrinos que o Sorriso Perpétuo da Rainha-Mãe era decorrente do fato de que ela enxugava um litro de gin por dia. E vejam bem, a Matrona viveu até os Cento e Um Anos. Claro que se você quiser viver muito, não deve tentar fazer isso, a não ser que você seja a Rainha da Inglaterra. O gin é forte pacas e normalmente não é bebido puro, mas combinado com outras coisas, como no caso do Gin-Tônica e o Gin-Fizz. Curiosamente, essa bebida surgiu como remédio tonificante. Depois que o farmacêutico que a inventou percebeu que aquele monte de marmanjos que ia comprar Gin fazia uso recreativo do seu "tônico", passou a fabricá-lo em quantidade e a vendê-lo pros pubs. Isso é que é tino comercial!

Nível 7: Smurf. Esse é um drinque de minha autoria e conta com minha Bênção. Em primeiro lugar, passe na farmácia e pegue três vidrinhos de água de melissa. A título de curiosidade, veja a composição da água de melissa (vidro de 50 ml):

- Essências (erva cidreira, cravo da índia, jaçapé, limão, noz-moscada, coentro, canela): muito pouco
- Álcool: 37, 5 ml
- Água: o suficiente para 50 ml

Se você consegue fazer contas de dividir, já percebeu que 75% da inocente água de melissa é puro álcool potável - aí é que está a diversão. Passe no supermercado e compre uma garrafa de Curaçao Blue e um maço de hortelã. Chegando em casa, amasse umas folhas de hortelã com açúcar. Pegue uma coqueteleira, coloque a pasta de hortelã amassada, uma dose de Curaçao, a água de melissa e uma dose de água gelada. Chacoalhe bem. Pegue um copo alto cheio de gelo e, usando um coador, despeje nele o drinque. Espere o gelo derreter um pouco e então mexa com uma colher comprida. O resultado final é um creme azul gelado com álcool suficiente para descontrair até o mais carrancudo Pastor Luterano.

Nível 8: O Quinto Cavaleiro do Apocalipse. Bem, se você conseguiu chegar a este nível vivo, é sinal que está à procura de encrenca. Tudo bem, não vou decepcioná-lo. Pegue meio tablete de manteiga sem sal. Derreta em uma panela em fogo bem baixo. Quando a manteiga estiver liquefeita, apague o fogo. Vá mexendo com uma colher de pau enquanto despeja devagar um litro de rum. Misture bem e então beba. Você não vai sentir nada, pois a gordura da manteiga retarda a absorção do álcool. Vá bebendo. Beba tudo. Você ainda não sentiu nada. Espere só um pouquinho. Só um pouquinho.

(1) Tem gente que não precisa beber nada.

(2) Samurai sem Senhor. Depois do final do shogunato, no Japão, esse pessoal ficava ao léu, andando pra lá e prá cá, alugando seus serviços para quem quisesse, por exemplo, capar o folgado que engravidou sua caçula.

sacramentado e comungado pelo Padre Levedo

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